terça-feira, janeiro 30, 2007

Dedicação

Para que os versos do meu canto fossem construídos esplendorosamente,
destruí minha casa, pedra por pedra.

Para que a minha coroa irradiasse cores abundantes,
misturei meu sangue às suas cores.

Para que fosse para mim a única coisa do mundo,
destruí a minha felicidade com as próprias mãos.

Para que fosse para mim pai e mãe, mulher e filho,
fiquei sózinho e sem ninguém.

Para que se pudesse elevar ,alto e alado,
arremessei-me sem piedade.

Agora não tenho mais nada debaixo do céu:
levai-o também, pois é vosso.



Shin Shalon

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!


Ary dos Santos

domingo, janeiro 28, 2007

Tempo dos Tempos

Se nos tempos da Bíblia houvesse Jazz!
Ah!Se nos tempos da Bíblia houvesse Jazz!
Se nos tempos houvesse Jazz
o ritmo renovado do Jazz
o ritmo sincopado do Jazz
o ritmo sanguíneo do Jazz.

(...)

Porque o Homem quis o nada
e quis-se além de si e a si próprio.
Porque desprezei, desprezaste, desprezamos
o desprezo e não soubemos nada.
Porque depois de um nascimento que era uma vida
podemos gritar que não nos bastava a vida!

E todas as bocas o dizem
sem dizerem nada.
Todos os olhos o vêem
sem avistarem nada.
Todos os sentidos inominados
todos os milhões de sentidos esquecidos

sabem, na ignorância dos séculos
o sincopado da existência
o sincopado da Bíblia
o rag-time das nossas vidas diárias
do nosso esmagamento diário
e do canto bíblico das noites esfarrapadas.

E.M. de Melo e Castro

Profecias

O sono e a morte serão mais uma vez equiparados. O Homem aprenderá a morrer.

Abdul Varetti

Alvaro Lapa

O Tempo, o Mar e o Melro

Hoje fomos à esplanada do bar da praia no Guincho
ouvir a respiração do mar feita de sete ondas e seis silêncios
e enquanto isso falámos de coisas prosaicas
como o amor e outras que o são menos
como a vida e a morte e o tempo que entre elas decorre
no espírito na energia nas hipotéticas vidas passadas
Em que tu acreditas e eu não mas podemos sempre reconsiderar
reencarnações sucessivas na senda da perfeição
predição do futuro que se calhar afinal não é futuro
e aqui alonguei-me numa explicação
que metia modelos matemáticos
e tu sorriste
porque de modelos matemáticos nada percebes
mas em contrapartida sabes muito do amor e dos afectos
e acima de tudo sabes muito da amizade
chegámos à conclusão que o tempo não é uma linha recta
como sempre nos fizeram crer
o tempo não cabe nos séculos tão pouco nos anos nos meses nos dias
o tempo não é linear
partimos de uma premissa errada acerca do tempo
e construímos todo o nosso pensamento as nossas expectativas
a partir de uma premissa errada
o tempo não é linear
sou céptica e fiz perguntas que te deixaram um pouco irritada

No título está o tempo, o mar e o melro
vou ter por isso que te falar do melro
não te falei nele no Guincho porque não achei oportuno
mas quando me levantei para fotografar o mar
vi um melro
e quando vejo um melro sei quem é
porque ele tinha uma predilecção especial por melros
eram os seus pássaros preferidos desde criança
contava-nos histórias e mais histórias
algumas seriam inventadas mas mesmo assim verdadeiras
sobre os melros da sua infância
por isso desde que morreu quando vejo um melro
sei que é ele
ele hoje esteve ali e ouviu-nos falar
de coisas que não sabemos ao certo o que são

i
12 de Maio de 2005

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Palavras apetrechadas de asas

(...) Eles ouviram os gritos e ali vieram ter de todas as direcções/em pé, junto à gruta/perguntavam-lhe que mal padecia:que se passa Polifemo, para gritares desse modo/na noite imortal, tirando-nos o sono?Será que algum homem mortal te leva os rebanhos /ou te mata pelo dolo e pela violência?/ De dentro da gruta lhes deu resposta o forte Polifemo:/"Ó amigos, Ninguém me mata pelo dolo e pela violência!"/Então eles responderam com palavras apetrechadas de asas:/"Se na verdade ninguém te está a fazer mal e estás aí sózinho, não há maneira de fugires à doença que vem de Zeus.Reza antes ao nosso pai, ao soberano Posídon."


Homero
Excerto do canto IX da Odisseia
Tradução de Frederico Lourenço

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Tempos de mudança

Os momentos de viragem nas nossas vidas são, regra geral, violentos sobretudo quando saltamos no escuro, sem rede e sem a certeza de que o pára-quedas que carregamos às costas vá abrir.
Por vezes prolongam-se durante anos, o que na vida breve de um ser humano pode saber a quase eternidade.
São momentos de grandes tensões e essas, por vezes, fazem-nos adoecer e sentimo-nos ,até, fraquejar.
"Vive-nos a vida, não nós a vida" escreveu um dia Fernando Pessoa.
Entendo agora um pouco melhor esta frase, mas recuso-me a demitir-me de a viver e nego-lhe o pleno acesso ao painel de bordo, pelo menos no espaço que está reservado ao meu livre arbítrio.
Os momentos de grande transformação servem também para expurgarmos, de forma natural, pessoas, coisas, pseudo-valores, que nos estão a ocupar espaço na memória.
Muitas vezes nem é necessário escolhermos o que e a quem excluir, dali para o futuro. Passamos a ver as pessoas, sobretudo as pessoas, mas também as coisas que até então nos têm regido, de uma forma mais racional e despida de tudo o que não é a sua natureza.
Há aqueles que nas suas vidas nunca ousam mudar e transformar o seu mundo. Vivem acomodados às suas mediocridades, aconchegados em sentimentos que já não o são.
Tantas emoções que não viverão! A vida vive-os na inércia a que se condenam. Mas também essas pessoas têm livre arbítrio e escolheram que fosse assim.



i
26 de fevereiro de 2005

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Régimen de frutas

La naranja es el día o la mejilla fresca,
sorbo de claridad, copa del clima;
la pera ahonda sus heridas de agua
con memoria de témpano y agujas de delicia
y los melocotones
acumulan su rubio material de alegría.

La manzana sobrina, fragante del corozo,
a morir se resiste en vano entre los dientes.
Sus congeladas lágrimas
muestran las uvas de mirada verde.
Cascabeles de azúcar,
repican sin rumor los mirabeles.

Todo el sol en redomas encerrado,
todo el aire en volúmenes vertido,
toda el agua y la tierra en vegetales moldes,
penetran en mi interno laberinto
y un mundo elemental se disuelve en mi sangre
que acarrea despojos de ciclo como un río.

Y apresura su viaje a bocanadas
por sus ínfimas redes
entre una geografía palpitante
de músculos y nervios, sin nunca detenerse,
cambiando en luz orgánica y en azúcar de gozo
los gestos de las cosas y el esplendor terrestre.


Jorge Carrera Andrade

terça-feira, janeiro 23, 2007

Voces en el Jardín Botánico

Te llamo Palmera Cornígera
Te digo Palmera de Corazón
Tu nombre es Palmera de Piernas Cortas
Palma Latania
Palma Cabellera que vuela
Palma Augusta

Y éstos
Corazones Trepadores
Corazones Amplios de Sombra
Helechos de Serpiente Coral
Estos son Helecho Tortuga
Esposos de las Campanas de Cristal
Así los vimos
Oyeme Colibrí Rojo. Recuerdo.

Vi los Trepadores de Nucas
Trepadores con una mariposa
La Flor Aspera que se come
La Serpiente Verde de Jamaica
Así les dije, estremeciéndolas con sus nombres

Aquella es llamada Las Espadas Dispuestas
Aquella se dice
Espadas Que Defienden un Corazón
Cacto Acostado —Viejo Acostado
El Enfermo —Cacto
Serpiente Devoradora de Perros
Estos estaban del lado derecho,
acomodados.

Mujer enlunada —Cabellera Enlunada
Te dije brillabas en el centro
de las alfombras.

Miré y dije
Estos se llaman
Los Que se Recostaron para Volver a Nacer

Bueyes con estrellas blancas y lagartijas
Melenudos, Mechudos con un nido en la cabeza
No se movían, y viven con sus nombres atados
al cuello
en la parte de sus flores

A esa le digo
La delicada de Ver —Que provoca comérsela
—Gustosa
Que se halla en el corazón de terciopelo
Y ésta se ve hinchada de sombra
y se nombra —Buena para un descanso
Allá en el Camino
con Mucho Sol

Entonces te veo,
eres el Agarrado por la Tierra
que quiere levantarse
El Corazón apresado
El Corazón atrapado
Comido —En viaje

Y a ti te dicen
—La Bella, la que jamás podrá morir

Esos se veían por el lado izquierdo, junto al
habla entre ranas

Y apareció por el recodo
Estera de Oro —Riego de Oro—
le dije así, la escribí con metal

Casa de Refugio —Ramas de Refugio— Refugio
ésa es la palabra, el sonido
Así Sea.

Y ustedes son Flores de Entrada Prohibida
Vírgenes Pintadas —Conversadoras
De entrada sin puerta
Prohibidas

Y por magníficas
Las Espinas que Vinieron
a Sonreir
Tejidas con Miel
Olorosas —Hablan con el cielo
—Les dije

El Rugoso —Verrugoso—
Pero en la parte de sus flores
y arriba ¡Cómo sonríe!
Palmera sin Patas —Palmera Asombrada—
Por el Centro y llamándote
Cabelleras con Rocío
A tu diestra
Iluminadas—
Y éste, al que conocí
Se durmió en el Océano Al Primer Resplandor
(Sólo al florecer puedes encontrarme. Oro)
Tales palabras les decía, así configuraba

Arbol que Habla
Arbol del Sol —Jaguar

—Y cómo se desperezaba,
Cómo se alzaba


Sombrilla de Sexo Rosado Extendido
por las Nubes

Más adelante te encontré
Aroma
Tramadito
De Pomas rayadas Verdeoscuro
—Amarillo— Verdepálido
Salas de Arroyos —Casa de Humedad—
Y así te escribo

Las Amodorradas
Recostadero de la Plata. Esas!

Jugada del Príncipe
Del que Cantan los Pájaros —Opulento—
Tan bien vestido.
—uno que se relaciona con amarillo
Baja del Sueño—
A toda esta casa: ¡Oyeme!

Plaza de los Puñales
Fuego Viejo en las Vainas
Guardiada—
Te digo.
Sea!




Ramon Palomares

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Viagem


No Museu da Ciência, na Expo, em Lisboa, os meus filhos e eu fizemos uma viagem fantástica: partimos do infinitamente grande e chegámos ao infinitamente pequeno, sempre a multiplicar.

A estação de partida é o ecrã da maquineta onde se vê um fundo azul escuro, crivado de pontinhos minúsculos, dourados: é o universo.

Clicamos que é o mesmo que dizer multiplicamos por "dez elevado a seis", e surge um conjunto de galáxias, clicamos de novo e eis a Via Láctea, mais uma vez e aparece o planeta Terra.

Continuamos a multiplicar sempre pela mesma potência e, sucessivamente, aparece no ecrã:

Um País (deve ser a América)
Uma cidade (Nova York)
Um prédio
Um apartamento
Uma sala
Um computador
A mão do menino sobre o "rato"
Um poro da pele da mão
Uma célula do poro
um átomo da célula
O núcleo do átomo
..................
Clicamos a derradeira vez : surge de novo o fundo azul-escuro com os pontinhos brilhantes (átomos ou planetas?)

Como não percebo nada de Física, acho sempre extraordinário como se consegue chegar ao mais pequeno, partindo do maior e...sempre a multiplicar.

É que estava convencida que do maior para o mais pequeno só se poderia ir, a dividir ou a subtrair.

É tudo tão relativo, não é? A começar pelo que pensamos e de que estamos convencidos até ao que chamamos realidade.
i
17 de janeiro de 2005

quarta-feira, janeiro 17, 2007

São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga

terça-feira, janeiro 16, 2007

Y Dios me hizo mujer

Y Dios me hizo mujer,
de pelo largo,
ojos, nariz y boca de mujer.
Con curvas
y pliegues
y suaves hondonadas
y me cavó por dentro,
me hizo un taller de seres humanos.
Tejió delicadamente mis nervios
y balanceó con cuidado
el número de mis hormonas.
Compuso mi sangre
y me inyectó con ella
para que irrigara
todo mi cuerpo;
nacieron así las ideas,
los sueños,
el instinto.
Todo lo creó suavemente
a martillazos de soplidos
y taladrazos de amor,
las mil y una cosas que me hacen mujer todos los días
por las que me levanto orgullosa
todas las mañanas
y bendigo mi sexo.


Gioconda Belli

Aviso Prévio

O aviso prévio é das coisas mais detestáveis que existem.
Já em miúda quando me diziam" depois não digas que não te avisei", não me soava a amabilidade, a verdadeiro temor pelo que me pudesse vir a acontecer .
Mais me parecia um relâmpago seguido de trovão , uma inevitabilidade nefasta, algo que irremediavelmente me iria acontecer pela força , não das circunstâncias, mas do pensamento de quem me avisava.
Soava-me a ameaça, mas não na sua forma mais básica que é: "se fazes isso , acontece-te aquilo, o que não é nada bom para ti". Não. Antes, soava-me a ameaça envolta em sarcasmo, em "tomara que faças para que te aconteça", ou "digo-te isto para te desafiar e tu fazeres mesmo".
Não há nada mais canalha do que quando o nosso carrasco ,fingindo temer por nós, se mascara com palavras cheias de espinhos moles que logo se inteiriçam.
I

Uma estranha f(r)ase

Fernando Pessoa escreveu, um dia, uma estranha frase que, quando li, não entendi completamente:" Vive-nos a vida, não nós a vida".
Pessoa era um caos de espírito, munido de uma suprema inteligência e de uma genialidade única. Conseguia passar para a escrita o ridículo, a pequenez e a tragédia da existência humana.
"Vive-nos a vida, não nós a vida"...Quando li, desafiei o escritor e pensei" isto nunca me irá acontecer, não vou permitir que a vida me viva". E iniciei uma guerra, por vezes guerrilha até, numa tentativa de ser eu a vive-la e não permitir ser vivida por ela.
Mas o Tempo devora-me. Não pára, segue, segue sempre, não sei se em frente: nada entendo das direcções do Tempo. Antes eu era eterna, nunca pensava na morte. Tomei consciência da minha perenidade quando surgiram as primeiras maleitas crónicas e sem retrocesso, quando ao olhar para a minha filha reparei que estava da minha altura, quando os meus familiares mais próximos começaram a morrer...
Vive-nos a vida, não nós a vida, dizia Pessoa e eu desafiava-o: eu vou ser dona da minha vida, conduzir-me para onde eu quero, chegar onde pretendo. Serei eu a segurar as rédeas, a dominar a minha vida. Estava convencida que era um deus.
Pensava que poderia escolher os caminhos, decidir nas encruzilhadas. Pensava que existia o Livre Arbítrio e pensava até que o pensamento fosse livre.
Mas nada disso é assim. Os caminhos escolhem-nos, as encruzilhadas só existem na nossa imaginação e o pensamento não é livre pois são os meandros do nosso cérebro que determinam o que pensamos, a forma e a profundidade das suas circunvalações ditam as nossas decisões; as nossas hormonas , as nossas emoções e os nossos humores , os nossos sentimentos.
Vivemos a vida? Vivemos na vida? Vive-nos a vida? Vive a vida em nós?
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Um estúpido texto sobre as pessoas


As pessoas. As estúpidas. As inteligentes. As más. As boas. As vis. As honestas. As verdadeiras. As mentirosas. As felizes. As infelizes. As ricas. As pobres. As magras. As gordas. As importantes. As indigentes. As criminosas. As honradas. As fiéis. As enganadoras. As bonitas e as feias. Nenhuma sabe porque nasceu. Nenhuma pode provar que Deus existe. Nenhuma pode provar que Deus não existe. Nenhuma pode explicar a vida. Nenhuma pode explicar o mundo. Nenhuma pode explicar nada. Há pessoas que pensam que sabem coisas acerca do mundo, da vida mas podem não saber nada. O mundo pode não existir além das nossas imaginações. Pode tratar-se de uma alucinação colectiva. As pessoas podem não ser o que pensam ser. Podem até não existir da forma que pensam que existem. As pessoas podem ser os soldadinhos de chumbo de um deus qualquer. Podem ser bonsais podados à semelhança das árvores de uma floresta, para divertimento de uns quaisquer seres ou não-seres dos quais não têm percepção. As pessoas pensam. Ou apenas pensam. Têm sentimentos ou apenas têm sentimentos. Ter sentimentos pode não ser tudo. Pode haver mais para lá dos sentimentos. Porque os sentimentos podem ser só reacções químicas do encontro de fluidos, de humores que as pessoas segregam sem disso terem consciência. As pessoas não comandam as suas secreções. As pessoas não dominam os seus apetites. As pessoas não controlam as suas vontades, nem os seus medos.
Domingo à noite vi no canal Biografia, a vida dos Ceausescu. E fiquei na dúvida. Por um lado Helena e Nicolae pareceram-me vilões. Por outro, dementes. Por outro ainda, heróis. Por outro, sérios. Por outro, criminosos. Belos em algumas circunstâncias, feios quando o medo se apossou das suas feições. Terríveis quando mandavam matar. Patéticos perante a morte eminente, importantes quando nas tribunas eram aclamados. By the other hand and by the other hand and by and by and by...todas as pessoas morrem sós.

i

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Sonho de uma tarde de Verão


Atravessei o Guadiana ao teu encontro.
Muitos quilómetros depois de estrada deserta, margens secas, calor, sede, entrei na rua Direita.
Não se chama assim mas para mim, todas as ruas do mundo que vão dar à igreja matriz são "ruas direitas".
E "para mim" é algo que para mim, tem muita força, mesmo quando não é para mais ninguém.
Lá estavas tu, a acenar, à minha espera e eu tinha tantas saudades tuas!
Como a vida é vazia se não pudermos estar com aqueles que amamos!
Foi só uma semana e foi tanto Tempo. A tua ausência do local onde todos os dias nos encontramos tornou-o ainda mais sem sentido, vazio, oco.
E lá voltámos "muito loucas", como costumamos dizer, a rir à gargalhada de tudo e de nada, mesmo até daquelas coisas que nos fazem chorar, nos entristecem e deprimem, nos torturam e fazem sofrer.
Rir.
Adoro rir contigo. Ver-te rir. Porque umas vezes atiras a cabeça para trás e pareces uma menina. Outras, olhas-me profundamente enquanto ris como se procurasses em mim a resposta à pergunta silenciosa que sempre fazes, quando ris:"porque me rio, se sofro?".
“Vai, vai-te embora depressa porque eu quero chorar à vontade" disse-te a tua mãe, à despedida.
Tens o melhor do mundo: uma mãe que chora quando partes.
Além disso tens uma árvore carregada de garças boieiras. Irmãs que uivam ao luar, por entre ruínas. Amigas que, por ti, assaltam a caixa de esmolas. Um homem que "malgré tout" te adora e te telefona a perguntar:"há skip?"enquanto voávamos na auto estrada.


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Junho 03,2006

livre arbítrio

Vivo únicamente porque puedo morir cuando quiera: sin la idea del suicidio, hace tiempo que me hubiera matado.

Cioran

Faça a sua parte II

Eu não sei...

...o que tenho em Serpa
Que de Serpa me estou lembrando
Ao passar o rio Tejo
As ondas me vão levando

Abalei do Alentejo
Olhei para trás chorando
Alentejo da minha alma
Tão longe me vais ficando

Ceifeira que andas à calma
À calma ceifando o trigo
Ceifa as penas da minha’alma
Ceifa-as e levás contigo.

Canção popular alentejana

Lembro-me do sol, das ruas brancas, das casas brancas, dos gatos à soleira, das mulheres à sombra, dos homens nas tabernas, das terras de barro, dos girassóis,das vinhas de Pias, do azeite de Brinches, das queijadas de requeijão da fábrica Paixão, dos meus amigos que lá nasceram e lá vivem e também dos que lá nasceram e se foram embora, do aqueduto e do lagar , do palácio dos Breyner, do dos Condes de Ficalho, das igrejas de estilo gótico alentejano, da janela manuelina, da judiaria, das piscinas com relvados e rosas, das planuras com tantas cores, do céu sempre azul, das trovoadas de Maio, da chuva grossa e quente dos fins de tardes de Maio, verdadeiras happy hours as horas em que chovia e desabava sobre nós o calor em forma de água, 45 graus, ar que nos queimava os pulmões , do oásis público a que se chama jardim, da casa quinhentista de um judeu rico, da pele mate e dos cabelos negros e lisos das pessoas, herança egípcia da colónia que ali se estabeleceu há muitos séculos atrás.
Eu sei o que tenho em Serpa
E porque de Serpa me estou lembrando.

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domingo, janeiro 14, 2007

Fetiche

O meu: a Beleza.Qualquer que seja a forma que assuma.

i
Julho 15, 2006

Mulheres de Serpa

Ceifar manualmente, como se fazia outrora, era duro.
Desde a aurora até ao pôr-do-sol, sob a canícula do Verão do Baixo Alentejo, as mulheres e os homens ceifavam, avançando ao longo de hectares e mais hectares cultivados de trigo
O trigo maduro picava-lhes as mãos; espetavamm-se farpas que magoavam e infectavamm. E no meio das espigas escondiam-se as "víboras negras".
As mulheres trabalhavam ao lado dos homens embora ganhassem apenas metade.
Muitas começavam com doze, treze anos, acompanhando os pais de monte em monte, para onde houvesse trabalho. E era com essa idade que se juntavam a homens geralmente dez, quinze anos mais velhos.
À noite dormiam todos juntos em celeiros, sobre a palha, e comiam a ração que o capataz lhes fornecia: vinho e pão com manteiga de cor que mais não era que banha de porco, frita no pingo da carne.
As ceifeiras aos quinze, dezasseis anos já tinham filhos e aos vinte já estavam fartas de levar tareias dos homens com quem viviam.Finalmente quando eles morriam e os filhos se arrumavam, podiam respirar e ser felizes, sorrir ao mundo, sentadas à soleira da porta.

i
18 de julho 2006

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Faça a sua parte


Se anda preocupado com as mudanças climáticas dos últimos anos, se se sente impotente diante das perspectivas ambientais e também tem a impressão de que a cavalaria não virá para nos ajudar; se gostaria de poder fazer algo mas não sabe por onde começar, não tem a certeza de que as suas acções causariam efeito e está disposto a arregaçar as mangas, junte-se a nós nesta campanha.




Salve a sua vida.


Esta é uma campanha voluntária, popular e internacional.
Não tem patrocinador nem proprietário; ela é tão sua quanto minha e começa agora.
Não espere convite ou intimação. É você quem decide.Descubra o que pode fazer para ajudar a salvar o planeta. Feche a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba; deixe o carro na garagem e use mais os transportes colectivos; desligue o ar condicionado uma hora antes; não compre produtos da empresa que polui; troque o atum em lata por peixe fresco; exija que a câmara da sua cidade adopte um programa eficaz de reciclagem de lixo e controle se realmente funciona; desenvolva actividades ao ar livre com seus alunos; descubra como substituir as embalagens da sua empresa por material reciclado e biodegradável ; divulgue a campanha no jornal, rádio ou tv onde trabalha e informe os resultados periodicamente; use somente metade das lâmpadas do escritório e da sua casa; desenvolva um equipamento anti-poluente.
Enfim, tem sempre alguma coisa que pode ser feita.Convide a sua associação, a sua comunidade ou seus amigos a descobrirem como podemos salvar a Terra com pequenas ou grandes acções, cada um fazendo o que for possível. Participe, divulgue e incentive, mas não espere por ninguém.Faça a sua parte.

PS – Este texto pode ser copiado, traduzido, impresso e divulgado em qualquer meio sem prévia autorização.


Allan Robert

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Siwa

La mer

La mer
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie

La mer
Au ciel d'été confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer bergère d'azur
Infinie

Voyez
Près des étangs
Ces grands roseaux mouillés
Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillées

La mer
Les a bercés
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A bercé mon cœur pour la vie


Charles Trenet

terça-feira, janeiro 09, 2007

Andarilhus

Los Robles

Allá en tiempos que fueron, y el alma
han llenado de santos recuerdos,
de mi tierra en los campos hermosos,
la riqueza del pobre era el fuego,
que al brillar de la choza en el fondo,
calentaba los rígidos miembros
por el frío y el hambre ateridos
del niño y del viejo.

De la hoguera sentados en torno,
en sus brazos la madre arrullaba
al infante robusto;
daba vuelta, afanosa la andana
en sus dedos nudosos, al huso,
y al alegre fulgor de la llama,
ya la joven la harina cernía,
o ya desgranaba
con su mano callosa y pequeña,
del maíz las mazorcas doradas.

Y al amor del hogar calentándose
en invierno, la pobre familia
campesina, olvidaba la dura
condición de su suerte enemiga;
y el anciano y el niño, contentos
en su lecho de paja dormían,
como duerme el polluelo en su nido
cuando el ala materna le abriga.




Bajo el hacha implacable, ¡cuán presto
en tierra cayeron
encinas y robles!;
y a los rayos del alba risueña,
¡qué calva aparece
la cima del monte!

Los que ayer fueron bosques y selvas
de agreste espesura,
donde envueltas en dulce misterio
al rayar el día
flotaban las brumas,
y brotaba la fuente serena
entre flores y musgos oculta,
hoy son áridas lomas que ostentan
deformes y negras
sus hondas cisuras.

Ya no entonan en ellas los pájaros
sus canciones de amor, ni se juntan
cuando mayo alborea en la fronda
que quedó de sus robles desnuda.
Sólo el viento al pasar trae el eco
del cuervo que grazna,
del lobo que aúlla.




Una mancha sombría y extensa
borda a trechos del monte la falda,
semejante a legión aguerrida
que acampase en la abrupta montaña
lanzando alaridos
de sorda amenaza.

Son pinares que al suelo, desnudo
de su antiguo ropaje, le prestan
con el suyo el adorno salvaje
que resiste del tiempo a la afrenta
y corona de eterna verdura
las ásperas breñas

Árbol duro y altivo, que gustas
de escuchar el rumor del Océano
y gemir con la brisa marina
de la playa en el blanco desierto,
¡yo te amo!, y mi vista reposa
con placer en los tibios reflejos
que tu copa gallarda iluminan
cuando audaz se destaca en el cielo,
despidiendo la luz que agoniza,
saludando la estrella del véspero.

Pero tú, sacra encina del celta,
y tú, roble de ramas añosas,
sois más bellos con vuestro follaje
que si mayo las cumbres festona
salpicadas de fresco rocío
donde quiebra sus rayos la aurora,
y convierte los sotos profundos
en mansión de gloria.

Más tarde, en otoño
cuando caen marchitas tus hojas,
¡oh roble!, y con ellas
generoso los musgos alfombras,
¡qué hermoso está el campo;
la selva, qué hermosa!

Al recuerdo de aquellos rumores
que al morir el día
se levantan del bosque en la hondura
cuando pasa gimiendo la brisa
y remueve con húmedo soplo
tus hojas marchitas
mientras corre engrosado el arroyo
en su cauce de frescas orillas,

estremécese el alma pensando
dónde duermen las glorias queridas
de este pueblo sufrido, que espera
silencioso en su lecho de espinas
que suene su hora
y llegue aquel día
en que venza con mano segura,
del mal que le oprime,
la fuerza homicida.




Torna, roble, árbol patrio, a dar sombra
cariñosa a la escueta montaña
donde un tiempo la gaita guerrera105
alentó de los nuestros las almas
y compás hizo al eco monótono
del canto materno,
del viento y del agua,
que en las noches del invierno al infante
en su cuna de mimbre arrullaban.

Que tan bello apareces, ¡oh roble!
de este suelo en las cumbres gallardas
y en las suaves graciosas pendientes
donde umbrosas se extienden tus ramas,
como en rostro de pálida virgen
cabellera ondulante y dorada,
que en lluvia de rizos
acaricia la frente de nácar.

¡Torna presto a poblar nuestros bosques;
y que tornen contigo las hadas
que algún tiempo a tu sombra tejieron
del héroe gallego
las frescas guirnaldas!

[...]



Alma que vas huyendo de ti misma,
¿qué buscas, insensata, en las demás?
Si secó en ti la fuente del consuelo,
secas todas las fuentes has de hallar.
¡Que hay en el cielo estrellas todavía,
y hay en la tierra flores perfumadas!
¡Sí...! Mas no son ya aquellas
que tú amaste y te amaron, desdichada.


Cuando recuerdo del ancho bosque
el mar dorado
de hojas marchitas que en el otoño
agita el viento con soplo blando,
tan honda angustia nubla mi alma,
turba mi pecho,
que me pregunto:
"¿Por qué tan terca,
tan fiel memoria me ha dado el cielo?"




Del antiguo camino a lo largo,
ya un pinar, ya una fuente aparece,
que brotando en la peña musgosa
con estrépito al valle desciende.
Y brillando del sol a los rayos
entre un mar de verdura se pierden,
dividiéndose en limpios arroyos
que dan vida a las flores silvestres
y en el Sar se confunden, el río
que cual niño que plácido duerme,
reflejando el azul de los cielos,
lento corre en la fronda a esconderse.

No lejos, en soto profundo de robles,
en donde el silencio sus alas extiende,
y da abrigo a los genios propicios,
a nuestras viviendas y asilos campestres,
siempre allí, cuando evoco mis sombras,
o las llamo, respóndenme y vienen.



Ya duermen en su tumba las pasiones
el sueño de la nada;
¿es, pues, locura del doliente espíritu,
o gusano que llevo en mis entrañas?
Yo sólo sé que es un placer que duele,
que es un dolor que atormentando halaga,
llama que de la vida se alimenta,
mas sin la cual la vida se apagara.




Creyó que era eterno tu reino en el alma,
y creyó tu esencia, esencia inmortal;
mas, si sólo eres nube que pasa,
ilusiones que vienen y van,
rumores del onda que rueda y que muere
y nace de nuevo y vuelve a rodar,
todo es sueño y mentira en la tierra,
¡no existes, verdad!



Ya siente que te extingues en su seno,
llama vital, que dabas
luz a su espíritu, a su cuerpo fuerzas,
juventud a su alma.

Ya tu calor no templará su sangre,
por el invierno helada,
ni harás latir su corazón, ya falto
de aliento y de esperanza.

Será cual astro que apagado y solo,
perdido va por la extensión del cielo,
mudo, ciego, insensible,
sin goces, ni tormentos.



No subas tan alto, pensamiento loco,
que el que más alto sube más hondo cae,
ni puede el alma gozar del cielo
mientras que vive envuelta en la carne.

Por eso las grandes dichas de la tierra
tienen siempre por término grandes catástrofes.



Rosalía de Castro

sábado, janeiro 06, 2007

Conversar

Conversar é muito bom. Melhor que ler um livro ou ir ao cinema.
Porque o livro já está escrito e no cinema já se sabe como vai terminar o filme. Não há volta a dar-lhes.
Mas nas conversas, nunca se sabe o que pode acontecer. É um jogo, um prazer imenso: falamos, ao sabor de um tema, ou sem tema, ao sabor do pensamento, ou sem pensamento, ao sabor dos sentidos.
Há um grau de risco indeterminado em qualquer conversa: podemos sair dela irremediavelmente seduzidos ou, pelo contrário, zangados ou aborrecidos, sem vontade de repetir.


I

DOMINGO, JULHO 31, 2005

Amabilidades de viagem

«Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio, saído de um ponto que desconhecemos, para um ponto que ignoramos; devemos ter, uns para os outros, uma amabilidade de Viagem»

Fernando Pessoa

Por isso não entendo o prazer da maldade gratuita, as pessoas que nos olham de alto a baixo com olhar invejoso (rancoroso?), quando entramos num lugar onde pensámos que nos iríamos sentir bem; os que nos empurram estupidamente nos locais públicos, os que nos abordam nas ruas incomodando-nos, os que nos dirigem palavras obscenas por uma razão que desconhecemos.
Não entendo nem tolero a estupidez humana, a insistência patética em mentiras que de tão evidentes se tornam uma afronta para nós, parecendo querer por em causa a nossa inteligência, transformando-se num verdadeiro atestado de lerdice que nos estão a passar.
Não aceito a falta de educação dos que se julgam ainda não percebi bem o quê, insistindo em dar-nos "bofetadas de luva branca" e em insinuarem com ironia a sua "superioridade". Estão sempre à espera de nos "ensinarem qualquer coisa", de nos "darem puxões de orelhas". São, por certo, os donos da verdade e eu, distraída, não reparei...
Não aceito, nunca, o sarcasmo, a arrogância e o desdém. Risco essas pessoas do meu mapa porque me incomodam muito. Criam-me mal-estar.
Quero a meu lado apenas os bons viajantes, mesmo os que desconhecendo o ponto de partida e o de chegada (todos desconhecemos, ainda que alguns creiam que conhecem) sabem ter, uns para com os outros "amabilidades de viagem".


I

SEGUNDA-FEIRA, OUTUBRO 31, 2005

Antes e Depois


Penso no Tempo. Não na chuva , nem no sol, mas naquilo que Ele me faz. Trato-O com reverência, mas não me retribui o respeito. Maltrata-me, sacode-me, atira-me para uma vala funda.Acumula-se em mim, dentro de mim, nas minhas células todas.
Escarnece de mim: Antes era a Depois , agora sou a Antes.
Peço-lhe:Pára.Pára em mim e continua lá fora.Que diferença Te faria? Sou só uma e Tu tens tantos.Não notarias a minha falta.Sou só uma e nada faço de especial, nada realizo que me faça permanecer em Ti. Não canto, não danço, não pinto, não escrevo, não mando matar inocentes nem incendeio Roma.


I
QUINTA-FEIRA, NOVEMBRO 03, 2005

As moscas


Há insecto mais incomodativo que uma mosca e menos merecedor de compaixão na hora do extermínio? Não!
Uma barata, por exemplo, remete para histórias infantis da carochinha ou, pelo contrário, para as profundezas de Kafka. Além disso, apesar do aspecto repugnante, consegue admiração pois em caso de guerra núclear será o único ser vivo a sobreviver.(Isto será verdade?) Provavelmente não. Mas que me impressionou quando li o artigo sobre a resistência extraordinária das baratas, não restam dúvidas e, ainda hoje, não tendo entretanto averiguado da veracidade dos factos, me metaforicamente curvo perante este insecto tão mal compreendido.
Mas as moscas...não há nada que abone em seu favor. São verdadeiramente nojentas.
Nos países nórdicos e da Europa Central são substituidas por laboriosas abelhas que, apesar de nos picarem de vez em quando, são facilmente perdoadas quando saboreamos o doce mel que produzem nos intervalos das zunidelas.
Às vezes dava comigo a pensar que, nesses países em que os índices de produtividade são mais elevados até os insectos contribuem para os valores dos ratios . Será por acaso que eles têem abelhas e nós , moscas?
Ok, também temos abelhas .
Algumas, resistentes, ficaram por cá.

Mas mais nojentos, muito mais nojentos que moscas são os acólitos dos políticos.
Ninguém imagina como me revolta as entranhas ver na televisão um político a falar , quando entrevistado pela comunicação social em qualquer evento , e, por detrás e dos lados, os sorrisos alarves e estúpidos dos idiotas graxistas que o rodeiam , formando uma moldura de boçalidade. E quando abanam a cabeça , em sinal de concordância plena? É o extase!
São mais nojentos, muito mais, que as moscas.
I

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Eu sou o Pedro Macau

Eu sou o Pedro Macau
Carrego às costas este pau.
Por mim passa muito patêgo,
uns de focinho branco,
outros, de focinho negro.
E nenhum me tira deste degredo.


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