quinta-feira, novembro 30, 2006

Palavras

Está sol, um dia frio e transparente, daqueles que nos fazem sentir melhor.
É curioso como, sem que nada se altere na nossa vida, partindo exactamente das mesmas premissas, bastam pequenas alterações em variáveis como as condições meteorológicas, para que o cenário em que nos movemos mude, nos sintamos mais felizes, mais confiantes em nós e, num exacerbamento a raiar a perda de racionalidade, nos outros.
Nestes dias, em que me sinto irracionalmente feliz, perco a ansiedade urgente de escrever.
Pego por isso nas palavras e atiro-as ao ar! Aí vão elas! Palavras! Sobem, voam e caiem. Na descida escangalham-se, perdem os ás.
Vão os ás pelos ares, levados pelo vento, parecem balões. Não gosto de ás; é preciso abrir muito a boca para os dizer: áááááááááás! Boca escancarada.
P..L..V..R..S... caídas a meus pés, vindas do céu. Que fazer com elas? Não sei, não sei. Hoje não me apetece escrever, estou bem disposta demais.
Paris, Londres, Viena, Roterdão, Sófia...vou viajar e levá-las comigo. Quem sabe, poderei precisar , de novo, delas.

I

(POSTED by I , in DUNAS, at 25/11/ 2005)

quarta-feira, novembro 29, 2006

San Martin de Castañeda

San Martín de Castañeda,
espejo de soledades,
el lago recoge edades
de antes del hombre
y se queda
soñando en la santa calma
del cielo de las alturas,
la que se sume en honduras
de anegarse, ¡pobre! el alma.
Men Rodríguez, aguilucho
de Sanabria, el ala rota
ya el cotarro no alborota
para cobrarse el conducho.
Campanario sumergido
de Valverde de Lucerna,
toque de agonía eterna
bajo el caudal del olvido.
La historia paró; al sendero
de San Bernardo la vida
retorna, y todo se olvida,
lo que no ha sido primero.
Y la segunda, ya de rima más artificiosa, decía y dice así:
Ay Valverde de Lucerna,
hez del lago de Sanabria,
no hay leyenda que dé cabria
de sacarte a luz moderna.
Se queja en vano tu bronce
en la noche de San Juan,
tus hornos dieron su pan
la historia se está en su gonce.
Servir de pasto a las truchas
es, aun muerto, amargo trago;
se muere Riba de Lago
orilla de nuestras luchas.

Miguel de Unamuno

segunda-feira, novembro 27, 2006

You are welcome to Elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

Cesariny (des)entrevistado y apenas entrevisto


Vaya por delante lo que en clave surrealista y portuguesa podríamos designar como un tercer "aviso a tiempo por causa del tiempo": a don Mário Cesariny no le gustan nada las entrevistas, especialmente si se acompañan de aparato audiovisual (magnetófonos, cámaras, etc.) y muy especialmente si quienes se las solicitan son o parecen ser o se consideran o él dice que realmente son amigos suyos. No lo tome el avisado y avieso lector por captatio benevolentiae o mea culpa , que a la prosa del poeta me remito y acojo: Não digo não ao seu jornal, como não disse a outros, mas não gosto de entrevistas. Não é um diálogo, uma troca de impressões, falsa ou verdeira, é um exame, ainda por cima remetido a um terceiro que está ausente. Acho que a única entrevista de que não me arrependo de todo foi a que dei a Afonso Cautela, para "A Capital". Eu só disse porra, cus e vão-se foder. Como Afonso Cautela conseguiu dar algum sentido àquela maná, é prova do génio português. [TS]


Hace ya más de quince años que conozco y que sigo a Mário Cesariny, y otros tantos hace que persigo una entrevista que siempre va quedando aplazada para mejor ocasión: ta, ta, ta... deixa lá isso, hoje estou assim um pouco... (se toca con el dedo la cabeza, se acaricia el estómago con la palma de la mano, hace muecas de improbable dolor mal definido), olha esta coisa aqui.... (y coge un libro, señala una pintura o un objeto, se levanta, se mueve inquieto, mira de reojo para asegurarse de que ya desistí de la entrevista y ni me acuerdo de ella... y sigue entonces el gesto mil veces aprendido del levantar de hombros y abrir mucho los ojos y llenar el cuarto con una apicarada carcajada triunfal de una sola nota -JÁ!). Gracias a mi insistencia de trovador asediante y a su resistencia de dama de cantiga antigua, sigo sin mi entrevista pero a cambio de compartir con él largos ratos de charla y de silencio (no hay bien que por mal no venga) que morirán conmigo cuando muera. Me hubiera gustado registrar, eso sí, sus pensamientos en voz alta sobre la historia de Portugal y sobre sus intentos por reescribirla urgentemente poniendo en su sitio a algunos de los personajes más nombrados de esa historia, como el señor D. Dinis (dedo hacia abajo), su sufrida y heterodoxa esposa (dedo hacia arriba), el azar que cruzó en Alcázarquivir al Rey D. Sebastião y al moro portugués que le dió muerte (o no, que vaya usted a saber, algunos lo estamos esperando todavía), la verdadera historia de amor en el triángulo formado por la monja de Beja, su hermano y el que después sería mariscal de Francia (aunque esto ya se sale casi de la historia de Portugal que a Mário Cesariny le interesa: A história de Portugal, sem dúvida mais interessante do que a história do Surrealismo, acaba no século XVI [TS]). Y por seguir con las historias de la Historia, hubiera querido también poder conservar por escrito sus opiniones sobre algunas de sus (nuestras) afinidades electivas, de Ramon Llull, Arnaut de Vilanova o Francisco de Holanda a Fourier, Rimbaud, Victor Brauner, Breton o Antonin Artaud [O Breton é o fim de qualquer coisa. O Artaud é um começo. O Breton levou as coisas até um limite que parece final. O Artaud vai além disso, foi buscar outras civilizações, uma antilinguagem. Gosto mais do Artaud, que decidiu viver o seu drama como tragédia cósmica [FL] ], y de Pessoa [Pessoa foi o início de qualquer coisa que ainda não sabemos bem o que é [FL] ]a António Maria Lisboa [O António Matria Lisboa é pouco classificável. A sua poesia não é agradável. Mas foi um homem decisivo porque abriu uma nova via, ou talvez uma via esquecida, que será cada vez mais importante. Foi um homem de magia, de um novo saber que concretizou mínimamente [FL] ]

Las entrevistas que otros consiguieron hacerle, las palabras que otros consiguieron arrancarle, me ayudan y nos ayudan a saber algo más de lo que el autor de Pena Capital piensa sobre cuestiones que tienen que ver con su apuesta como persona y como artista confundidos en una única pasión. Así, sobre al Surrealismo: Olhe, essa palavra está tão gasta, tão usada, que temos de arranjar outra. O surrealismo foi uma grande esperança. Deu grandes escritores e grandes pintores [FL] El entrevistador se sorprende por el tiempo verbal y se pregunta (le pregunta) si "está a falar em termos de passado", a lo que rápidamente responde: Na minha óptica não há uma só das permissas do surrealismo que não guarde as suas virtualidades.[FL] Quizás aquel "desgaste" pudiera tener algo que ver con el conocido fenómeno paranormal de la "integración" (desintegración, más bien) por la vía fagotizadora y embalsamadora de la enseñanza universitaria y de la crítica oficial o debidamente autorizada: Não está. Não vamos dizer surrealismo. Vamos dizer poesia. Porque surrealismo é o que existe de mais parecido com a poesia. Não se ensina, não é possível. Tudo o que é pedagógico é muito mau. Tudo o que nasce como revolta é um tormento. O surrealismo foi um convite à poesia, ao amor, à liberdade, à imaginação pessoal. O surrealismo reuniu o romantismo, o simbolismo, o futurismo, as tradições libertárias e outras correntes, e deu-lhes um sentido. Esse sentido não vai desaparecer, ficou explícito. Aquilo a que se chamou o surrealismo existiu sempre...[FL]

En mis divagaciones casi-históricas y semi-críticas he defendido (y sigo defendiendo, al menos de momento) la real existencia de un "movimiento surrealista" en Portugal (con todos los "peros" que se quieran), cosa que Cesariny no reconoce, al tiempo que asegura que la inexistencia del tal "movimiento" fue justamente lo que dió al Surrealismo portugués su mayor fuerza y originalidad. Las razones (de Cesariny): Acho que o motivo principal foi a existência de uma ditadura. Se fizéssemos um movimento íamos presos. Não era essa a nossa ideia. A nossa ideia era não irmos presos. Claro que era possível ter formado um movimento, é possível ser-se mártir , ou herói, matar-se alguém ou ser-se morto. Mas a verdade é que tínhamos um certo amor à vida [...]. Mas por um lado, foi bom que não tenha existido um movimento organizado como em França. Porque aí houve ditames e até expulsões. A ausência de estruturação deu ao surrealismo português uma enorme vitalidade externa [FL] Em Portugal nunca houve um movimento surrealista, nem sequer no ano de existência pública (1948-1949) do grupo surrealista de Lisboa, que depois da edição de quatro cadernos, de um protesto público e de uma exposição de pintura se dissolve, dando lugar a outro grupo que também não tardará muito a dissolver-se. Como seria possível subsistir, ou subsistir-se na ditadura? O surrealismo português viveu e morrerá, talvez, clandestino [CAM] . Movimiento organizado o agregación de individualidades, "intervención" surrealista hubo y los dardos de esa intervención tuvieron como más inmediato blanco literario las poéticas dominantes a mediados de los cuarenta en Portugal: Há não tão pouco tempo como isso havia duas maneiras de aparecer fortemente recomendadas pela crítica: a maneira de aparecer neo-realista (gregários) e a maneira presencista de aparecer (individuais). Estes, apesar de tudo, os melhores, pois umas terceiras escritas aparecidas -lembro os "independentes" com Jorge de Sena nos "Cadernos de Poesia"- caíram numa matemática que ainda hoje está para melhores dias [s.a.] ¿Qué queda de esa "intervención", qué del Surrealismo?: Do Surrealismo NÃO RESTA NADA, mas acontece que ESTÃO TODOS. Permanecem intactos os propósitos, fins e meios da intentona surrealista de 1924. [...] O Surrealismo continua a ser o último enunciado verdadeiro dos problemas centrais do nosso tempo, para quem quer viver como um homem, e não como um porco farto e satisfeito. Como filosofia, como poética, como busca da direcção desconhecida, da divindade civil: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, deram lugar aos mandamentos sagrados do Surrealismo: Liberdade, Amor, Conhecimento [CAM]

Consciente del abismo que nos separa de las palabras, que separa la experiencia poética de su imposible traducción, pero también consciente del deber (autoimpuesto) y de la voluntad de "hablar", de "traducir" (véase "You are welcome to Elsinore"), Cesariny fue publicando sus poemas al tiempo que luchaba también con las limitaciones de la pintura, hasta que un día pasó a dedicarse casi exclusivamente a esta última: Escrevo desde 1942. A febre durou doze anos. [...] No fundo escreve-se sempre o mesmo verso. Escrever poesia é uma espécie de invocação. Mas não se pode estar toda a vida a invocar o mesmo santo, sobretudo se ele não aparece. Assim sendo, não rezo mais. [...] A pintura parece não bulir tanto connosco. É imagem à mesma mas parece exterior. É um trabalho de mediação em que parece não se estar implicado. Na poesia, na escrita, estão todas as nossa vísceras. [FL] ¿Trabajo inútil, sensación de pérdida, nostalgia, arrepentimiento? El entrevistador le recuerda que "alguém escreveu que a sua poesia é um grito que conhece a sua própria inutilidade" y Cesariny responde: Uma pessoa que está convencida da inutilidade do seu grito, não grita. A poesia que escrevi é uma coisa que me foi e ainda é útil. Se o é para os outros não sei. A questão da inutilidade não se põe. Já Valéry dizia que o poema é o acto de criar, é a criação de um espaço. É um exercício de libertação em que muito daquilo que nos ensinaram não serve para nada, antes pelo contrário.[FL]. Es por ese carácter de “ejercicio de liberación”, de creación de espacios y de tiempos íntimos de iluminación y de realidad transfigurada, por lo que, sin dejar de abominar de poetas y poéticas o por lo menos de así manifestarlo en público y teatral gesto de remover las aguas estancadas, reconoce el trabajo y la alegría de quienes han decidido alzar sus tiendas extramuros de la ciudad platónica. Por lo demás, traquinas como es, juguetón y travieso y feliz como niño en día sin escuela, me acaba de decir por teléfono su penúltimo deseo y voluntad: Sabe, ó Prefeito, o que eu tenho pensado é vender parte da minha obra, comprar um carro enorme, contratar um chauffeur e viajar até ao dia da viagem definitiva. Viajar, tal vez, en seguimiento de aquel gato que un día Risques Pereira vió cómo partía a la aventura con el aire elegante y lejano y ausente que caracteriza y define a ese animal sagrado, dandy de los tejados y azoteas y lugares más altos todavía, a quien, como diría Cesariny, el lepidóptero burgués nunca conseguirá domesticar. Y ríe y ríe Mário, y nos reímos, y me vuelvo a reir al poner por escrito este disparatado collage de lecturas y memorias, este deshilvanado renovado homenaje al Poeta que sabe y me enseñó que, al final, pese a todo y casi contra todos, la Pirámide existe.




NB/ Se han utilizado para el rompecabezas anterior las siguientes entrevistas:
[s.a.] Jornal de Letras e Artes . Lisboa, nº 48, 1962, pp. 1 y 12.


[FL] Entrevista a Fernando Vale - Jornal de Letras, Artes e Ideias nº 38, 3-16/VIII/1982, pp. 2,3 y 4


[CAM] Entrevista a Cécar Antonio Molina - Jornal de Letras, Artes e Ideias. Lisboa, 20.2.90, pp. 6 y 7 [Publicado en español por Diario 16/Culturas ]


[TS] Entrevista a Torcato Sepúlveda - Público, 24 Maio 1991, Supl. Fim de Semana, pp. 6-9


Mário Cesariny o la universal presencia proteica y agónica de Eros


Retrato (ma non troppo) de memoria


Puede decirse de él lo que él dijo en una ocasión de Pessoa: que fue -quiero decir, que es- de los que siempre viajó en primera clase, incluso cuando estaba parado. Se le pueder ver hoy en los días templados paseando por la costa de Caparica olímpico, leonino (como él mismo dijo alguna vez de André Breton) y con algo de acróbata medusa, luciendo un magnífico reloj de pulsera en el tobillo y feliz de poder de repente transfigurarse en erecto flamenco rosa cuando él mismo se pone en el trance de consultar la hora. Nacido como Mário Cesariny de Vasconcelos, tuvo muy pronto noticia y experiencia del azar objetivo al encontrarse en una tasca del Bairro Alto con su heterónimo festivo Nicolau Cansado Escritor, de cuyos abismos líricos sabemos hoy gracias a los esfuerzos inquisitoriales de la Professora Doutora Marília Palhinha (no consta si también de Dirceu). Nicolau escribió mucho, escribió contra muchos, y, nadando en las aguas de las poéticas dominantes en el Portugal de la época, encontró la manera de guardar la ropa por la vía de la parodia o del escarnio amable. Que lo diga si no el Fernando Namora de Terra, evocado temiblemente en “Rural”:


Como chove, Cacilda!
Como vem aí o inverno, Cacilda!
Como tu estás, Cacilda!

Da janela da choça o verde é um prato
Que debe ser lavado, Cacilda!
E o boi, Cacilda!
E o ancinho, Cacilda!
E o arroz, a batata, o agrião, Cacilda!
Já cozeste?

Eu logo passo outra vez,
Em prosa provavelmente.
Arrozinho, Cacilda!
Os melhores anos da nossa vida, Ida!

- Ausente.


Tiempos de asfixia, de un gris sin matices dentro y fuera del marco del cuadro, tiempos de lucha y de propuestas de redención y libertad, tiempos de urgencias y de prioridades encontradas, tiempos en que en las dos orillas del río de la vida estaba prohibida o se consideraba impertinente la sonrisa. Tiempos en los que Cesariny desentonaba ya en el corro:

Vamos ver o povo
Que lindo é
Vamos ver o povo.
Dá cá o pé.

Vamos ver o povo.
Hop-lá!
Vamos ver o povo.

Já está.

Porque, con o sin animus injuriandi, reconocía y proclamaba un no sé qué de contradictorio que lo debía tener preocupado y confundido:

Burgueses somos nós todos
Ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
Desde pequenos.

Burgueses somos nós todos
Ó literatos.
Burgueses somos nós todos
Ratos e gatos
[…]

No se había inventado aún el “abyeccionismo” como específica tendencia literaria, pero el ambiente y algunos de sus efectos empezaban ya a apuntar en esa dirección. En esa atmósfera, el objetivo para Cesariny, para muchos, estaba claro: rehabilitar profunda y urgentemente la realidad cotidiana. ¿Objetivo posible o imposible? Para demostrar la imposibilidad (trágica) de esa rehabilitación, Cesariny se enfrenta y dialoga con Pessoa desde “Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos”, punto de intersección y de ruptura y de huida hacia otros horizontes literarios y (necesariamente también) morales y políticos. No era una deserción, era una necesidad interior de “abrir puertas al campo”, como pedía Octavio Paz. La llave –la clé des champs- la encontró (la encontraron algunos) en el Surrealismo a través de los textos entonces publicados o reeditados y difundidos de Breton y sus fieles o infieles compañeros y amigos. Aunque quizás no debiera haber dicho que “en ellos encontraron”, sino que en ellos “se encontraron” o, en todo caso, que en ellos vieron adecuadamente formuladas algunas de sus mayores interrogaciones y respondidas algunas de sus preguntas y sus perplejidades. Estamos a finales de los cuarenta, momento en que se produce en Portugal el milagro de lo que con justicia y rotundidad Cesariny denominó “la intervención surrealista” , intervención fugaz pero explosiva, iluminadora. Y en esa luz y desde esa luz y alumbrando esa luz iremos encontrando ya la poesía “mayor” de Mário Cesariny, bebiendo en los manantiales de la tradición popular o aprovechando la lección de los poetas “experimentales” del barroco portugués y español, utilizando con maestría las diversas “técnicas” (¿?) –el humor (negro u objetivo), los juegos (entre ellos, el cadáver exquisito), las enumeraciones caóticas, el automatismo, el collage picto-poético- aprovechadas por los poetas surrealistas para desarticular (y rearticular después satisfactoriamente) el mundo (su apariencia diurna y su oculta nocturnidad, lo fenomenólogico y su apropiación por la conciencia), para imponer desde el poema y por el poder de la palabra poética el “principio del placer” sobre el “principio de realidad” (si se me permite la broma-homenaje a Segismundo), para “decir” el mundo en su más difícil y terrible y divina lectura, aquella en la que y por la que dialécticamente puede llegarse a la definitiva síntesis de (todos) los contrarios. Y “decir” acabaría convirtiéndose en deber, en tarea difícil (prometeíca) porque “entre nós e as palavras há metal fundente” y porque, sobre todo, y pese a todo, se interpone "entre nós e as palavras o nosso dever falar". Sobre ese final imperativo hablábamos recientemente Mário y yo y me decía el poeta que no acababa de satisfacerle ese "deber" y que quizás sería mejor sustituirlo por un libérrimo "querer" que subrayase la afirmación de la voluntad individual frente a las imposiciones del medio. Dialogando amigablemente, como teóricos académicos o políticos sin perspectiva de poder, llegamos a una solución de compromiso por la vía de la ampliación y así quedó el estrambote del poema:


Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar
E entre nós e as palavras, o nosso querer falar

No sé si un día esa será la versión que Cesariny dé por definitiva. Seguro estoy de que no será así, porque mal se conjuga la idea misma de lo "definitivo" con el heraclitianismo de un pensamiento que, como el surrealista, se alza no sólo contra la Historia sino contra la idea misma de permanencia y de definición. ¿Un alzamiento, una rebelión sin sentido y sin futuro, una manera "reaccionaria" de enfrentar el mundo y sus contradicciones, una quimera, un placebo para el dolor de ser y de ser lo que somos y de no poder ser lo que fuimos o soñamos con llegar a ser algún día? El futuro dirá. El pasado ya ha hablado y lo que ha dicho nos ha dejado mudos. El presente no es más que la línea imaginaria que separa lo que será de lo que ya no es. Entre tanto, vivimos, y si además queremos estar vivos, deberemos vivir por y para el conocimiento, por y para el amor, por y para el deseo, por y para la libertad. ¿Dije amor, comnocimiento, deseo, libertad? Pude haber dicho surrealismo o poesía. Puedo decir y digo Cesariny. Si a Mário no le importa (y aunque le importe).


Coda biobibliográfica para eruditos y curiosos



Mário Cesariny de Vasconcelos (a partir de un cierto momento, prescindió del apellido paterno; hoy gusta de añadir al Cesariny el Rossi de sus antepasados) nació en Lisboa el 9 Agosto 1923, de padre beirão, oficial de joyero, y madre castellana, profesora de Francés. Estudió en el Liceu Gil Vicente. Cursó el 1º año de Arquitectura de la ESBAL (Lisboa), y más tarde frecuentó la Academia de Artes Gran-Chaumier de Paris. Estudió también música con Lopes Graça. Entre 1936 y 1943 frecuentó las aulas de la Escuela de Bellas Artes "António Arroio", de Lisboa (1936-43), donde entró en contacto con algunos de los componentes del grupo del Café Herminius, embrión festivo-afectivo-creativo de la aventura surrealista portuguesa . Se adhiere en 1945, con el resto del grupo del café Herminius, al neorrealismo, separándose al poco tiempo. En 1947 visita a Breton y participa en Lisboa en la fundación del movimiento surrealista. Pronto se desliga del grupo original y forma un nuevo grupo -al que se acostumbra denominar "Grupo Dissidente" o grupo de "Os Dissidentes"- con Risques Pereira, A. M. Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Mário Henrique Leiria, Cruzeiro Seixas, etc. Redacta el grupo en 1949 su manifiesto colectivo A Afixação Proibida, y promueve las sesiones de "O Surrealismo e o seu Público em 1949" y la I Exposição dos Surrealistas. Tras el fin de las experiencias colectivas de lo que casi fue un "movimiento (más o menos) organizado" -1947/1953 y 1958/1963- Cesariny prosigue individualmente, como harían algunos otros de sus compañeros supervivientes, la aventura surrealista a través de una actividad inagotable y múltiplemente orientada. Se ha dedicado a la pintura, primero de forma ocasional y, a partir de un cierto momento, de forma casi exclusiva -exactamente desde el momento en que decidió abandonar la poesía "cansado de invocar al santo, sin que el santo se dignara aparecer". Colabora habitualmente en diarios y revistas, ha publicado varias series de panfletos en fotocopias numeradas y firmadas, ha expuesto su obra plástica en numerosas ocasiones de forma individual y ha participado también en numerosas exposiciones colectivas, y desarrolla hoy una frenética actividad de transformación y rehabilitación o redención de lo real cotidiano de la que nacen cada día collages, objetos y otras fantasías materiales.


De su extensa obra literaria, destaca su labor de antólogo, recopilador y, pese a sus (fundamentadas) paradojas anti-historicistas, historiador (polémico y casi exclusivo, lo primero tal vez por causa de lo segundo) de las actividades surrealistas en Portugal, siendo por otra parte su obra poética una de las más ricas y complejas aportaciones a la historia de la poesía portuguesa contemporánea. Poesía primero de intervención contra las poéticas dominantes en el Portugal de los 40 (presencismo residual, neorrealismo, panlirismo ecléctico) desde la trinchera de la parodia y el pastiche sarcásticos, poesía del fallido intento de rehabilitación de lo real cotidiano (ejemplar, al respecto, su utilización de Álvaro de Campos como interlocutor privilegiado y cómplice a un tiempo homenajeado y "simplificado" para la ocasión), poesía después y sobre todo del amour fou deseado, vivido o malvivido, abandonado o traicionado, olímpicamente cantado o recordado y recreado elegíacamente.


OBRAS: Corpo Visível (1950); Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (1952);Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (1ª y 2ª ed., 1953);Manual de Prestidigitação (1956);Pena Capital (1957) Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação Pelo Autor (1958); Autoridade e Liberdade são Uma e a Mesma Coisa [folheto] (1958); Nobilíssima Visão (1959); Poesia (1944-1955) (s.f. [1961) [Incluye: A Poesia Civil, Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano , Pena Capital , Manual de Prestidigitação, Estado Segundo, Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor ]; Planisfério e Outros Poemas (1961); Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961; nueva ed.:Antologia do Cadáver Esquisito,1989);Surreal/Abjeccion(ismo). Antologia de Obras em Português Seleccionadas por Mário Cesariny de Vasconcelos de Acordo com o Propósito Inicial (1963; reed.: 1992); Um Auto para Jerusalém [adaptado de Os Doutores e a Salvação e o Menino , de Luís Pacheco] (s.f. [1964]); A Cidade Queimada. Arranjo gráfico e ilustr. de Cruzeiro Seixas (1965); A Intervenção Surrealista (1966; reed.: 1997); Cruzeiro Seixas (1967); 19 Projectos do Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres (1971); Reimpressos Cinco Textos Colectivos de Surrealistas em Português de que são Autores António Maria Lisboa, Mário Cesariny, Henrique Risques Pereira, Mário Henrique, Pedro Oom, Cruzeiro Seixas (con Artur Manuel do Cruzeiro Seixas) (s.f. [1971]); Aforismos de Teixeira de Pascoaes. (con Artur Manuel do Cruzeiro Seixas) (1971); Poesia de Teixeira de Pascoaes (1972); As Mãos na Agua a Cabeça no Mar (1972); Burlescas, Teóricas e Sentimentais (1972); 50º Aniversário do Primeiro Manifesto do Surrealismo: Contribuição ao Registo do Nascimento Existência e Extinção do Grupo Surrealista de Lisboa (con Artur Manuel do Cruzeiro Seixas) (s.f. [1974]); Contribuição ao Saneamento do Livro Pacheco versus Cesariny Edição Pirata da Editorial Estampa Colecção Direcções Velhíssimas (Jornal do Gato) (1974 );"Prefácio" in Luis Buñuel - Poemas (1974 ;2ª ed., 1977); Nobilíssima Visão. Seguido de Nicolau Cansado Escritor, de Louvor e Simplificação de Alvaro de Campos e de Um Auto para Jerusalem (1976); Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial (1977); Titânia e a Cidade Queimada (1977); Erratas, Gralhas e Omissões no livro Poesia de António Maria Lisboa estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos para a Editora Assírio & Alvim (1978); Primavera Autónoma das Estradas (1980); Três Poetas do Surrealismo (1981); Manual de Prestidigitação (1981) [Incluye: Burlescas, Teóricas e Sentimentais , Visualizações , Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano, Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor , Manual de Prestidigitação]; Pena Capital (1982) [Incluye: Pena Capital , Estado Segundo, Planisfério, Poemas de Londres, O Inédito em 1982 ]; Horta de Literatura de Cordel. Antologia, fixação do texto, prefácio e notas de M.C. (1983); Sombra de Almagre. Poema y serigrafía (1983); Vieira da Silva/Arpad Szenes ou o Castelo Surrealista (1984); As Mãos na Agua a Cabeça no Mar (1985); A Cidade Queimada (1988); O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Naturais & Estrangeiras por M.C.V. Who Knows Enough About It seguido de Louvor e Desratização de Alvaro de Campos pelo MESMO no mesmo lugar. Com 2 Cartas de RAUL LEAL (HENOCH) ao Heterónimo; e a Gravura da universidade. Escrito & Compilado de Jun. 1987 a Set. 1988 (1989; nueva ed.: O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Naturais & Estrangeiras por M.C.V. 2ª edição revista e aumentada, 1996]; Nobilíssima Visão (1945-1946) 1(991); Titânia História Hermética em Três Religiões e um Só Deus Verdadeiro com Vistas a Mais Luz como Goethe Queria (1994); Uma Combinação Perfeita (1995); Corpo Visível (1996); António António (1996); "Azulejos", in Imagine. Strawberry Fields. Un hommage à John Lennon (2000). Algunas traducciones de su obra: Poemas y textos. Org.: Alberto de Lacerda. México D.F., PLURAL, Revista Mensual de Excelsior , Nº 21 (Junio de 1973) pp. 35-36;Ortofrenia y otros poemas. Versión de Perfecto E. Cuadrado. Madrid: Cuaderna de Poesía Portuguesa, III, 1989; Manual de Prestidigitación. Trad. X. Trigo. Barcelona: Icaria Editorial, 1990; Labyrinthe du Chant. Anthologie. Préface de José Pierre. Traduit du portugais par Isabel Meyrelles et l'auteur. Bordeaux: L'Escampette, 1994; Lectura de poemas por Mário Cesariny. Madrid: Residencia de Estudiantes, s.d.; Un país de bondad y de bruma [antología]. Versiones de Perfecto E. Cuadrado. Badajoz: Junta de Extremadura/Espacio-Espaço Escrito, 1998.

Angel Campos Pampano



É preciso perdoar

A madrugada já rompeu
Você vai me abandonar
Eu sinto que o perdão
Você não mereceu
Eu quis a ilusão
Agora a dor sou eu

Pobre de quem não entendeu
Que a beleza de amar
É se dar
E só querendo pedir
Nunca soube o que é perder
Para encontrar
Eu sei que é preciso perdoar
Foi você quem me ensinou
Que um homem como eu
Que tem por quem chorar
Só sabe o que é sofrer
Se o pranto se acabar

Stan Getz

quinta-feira, novembro 23, 2006

De profundis

É um campo de restolho, sob uma chuva negra.
É uma árvore castanha, que se eleva solitária.
É um vento sibilante, que ronda cabanas vazias –
Que triste tarde esta.

Passando pela aldeia
A terna órfã recolhe ainda a escassa espiga.
Os grandes olhos de oiro procuram no entardecer
E o seu seio aspira ao noivo celestial.

No regresso
Os pastores encontraram o doce corpo
Apodrecido entre espinheiros.

Sou uma sombra longe de ameaçadoras aldeias.
Bebi da fonte do bosque
O silêncio de Deus.

Sobre a minha fronte cai frio metal.
Aranhas procuram o meu coração.
Há uma luz que se apaga na minha boca.

À noite encontrei-me numa charneca,
Cheio de dejectos e poeira sideral.
Nas aveleiras
Voltavam a soar anjos de cristal.

Georg Trakl

terça-feira, novembro 21, 2006

Gata

de manhã: mia, mia, mia
só depois de comer,
mia um bom dia

Alonso Alvarez

segunda-feira, novembro 20, 2006

Bagdad Soleil

Et quand les tirs s’étaient tus
et que le sang surgissait rouge et réel
les plaintes s’étaient déjà assombries dans l’oubli;
le spectre des morts, voix de la nuit,
était devenu pages d’histoire. Auréoles.
La décence de vivre s’en allait vers l’Au-delà,
le Rêve d’Être et la quête du bonheur dans l’honneur
désobligés comme une date d’ordinateur périmée
retrouvaient les grandes illusions de notre aliénation;
tout devenait mirage, calculs, animalité, étrangeté
tandis que cent mille morts étaient enregistrés.

Les boum! boum! boum! feux d’artifices célébrants
apparaissaient comme de la magie sur nos écrans de TV
et les jeux étaient faits tout comme au cinéma.
La haute technologie de la splendeur destructrice
avec feux, lumières, laser et une dose d’ignorance
confinent la Terre immense et notre intelligence
dans les ténèbres funèbres de l’oppression totalitaire;
un monde faux, fait d’engins qui tuent sans s’annoncer,
de cris de mort, cris de la bêtise humaine,
un monde de peur, de haine et de malfaisance
prend ainsi jour comme une destinée satanique
l’art de tuer étant devenu un miracle chimique
une osmose mortuaire entre la Beauté et l’Enfer
la perfection nouvelle vague de la zombification.

Les rubans jaunes comme une épidémie
s’étendaient sur l’immensité de l’espace
mais si vous regardiez assez profondément
derrière les regards méfiants dans le métro
vous verriez sous couvert un hiver triste
un cadavre humain pétri dans la dépression
une routine d’être et de vivre
y régnait désormais le principe de la réalité.

Puis nous avions dormi un soir lumineux
où nous avions réalisé qu’a nos rêves
de merveilles éclatantes et d’espoir
s’étaient substituées l’avarice et l’angoisse,
l’affabulation d’une humanité pervertie;
Si tel est ton émoi de conscience, mon ami,
tu viens d’être appelé à la charge;
c’est désormais, urgent et exigeant,
le temps pour forcer l’horizon à s’ouvrir
pour composer un poème avec sang et bon sens
temps pour aller vers la source
pour replanter l’arbre
arroser la semence
jusque dans l’essence de la vérité d’être
à l’épicentre de la géométrie de la quête.
Quête d’être, envol, transcendance de la bête!

Dans l’instant d’une lâcheté,
fuite de l’avant pour cacher nos névroses,
ils avaient bombardé Bassaora, Bagdad, Mossoul
et mille autres villages choisis au grand hasard
parce que les gens n’étaient qu’un emblème.

Pourtant nous étions tous des complices silencieux
de la destruction de l’Iraq
et des milliers de villages
et des enfants souffrant
périssant à petits feux
et des orangers atrophiés
tombés en «dommages collatéraux»
beaux mots faits d’innocence!

Les Kurdes? Quels Kurdes? Sont-ils
ces dépravés subjugués, humiliés, massacrés
depuis César et Charlemagne et Alexandre le Grand?
Vous me dites maintenant avec clameur et grâce
huilées dans les kissingeries d’un aimable crocodile
qu’ils sont vos anges du salut et vos lumières!

Avec une stupeur réprimée et un triste sens de perte
je n’avais vu personne pleurer durant la guerre entière
ceux qui avaient pleuré dans les cérémonies
pleuraient pour l’étendard impérial
l’étendard de l’honneur
la gloire de la patrie
et tout était oublié!
Qu’elle était belle l’Amérique étoilée
belle et heureuse dans une vaste hécatombe!

Merde! nous disons, réveille-toi
ô pauvre dépravé!
dis-leur ton histoire
secoue ton insomnie
troque ton faux confort pour un fécond réveil!
Dis, damnée que soit la guerre!
Vive le Rêve d’être!
Pas nécessaire de berner ta conscience
pour satisfaire les fauves de la Bourse.
Retourne, retourne sur Terre
et vis une histoire d’amour.

Les cliques d’exploiteurs racistes par vocation
qui déclarent la victoire sur un immense désert,
désert d’os brisés, d’âmes meurtries, résignées
sont tes pires ennemis en dépit du grand toast
à la Pax Americana et la libération du Koweït:
pire perdant qui perd jusque son sens de la perte!

Entre la grande sécheresse qu’on étalait sur l’Iraq
et les vallées de ruines de mort et de solitude
où l’on plongeait le peuple, un homme et une femme
avaient recours à l’amour pour comprendre la pagaille;
et soudain comme une renaissance magique
le monde des horreurs devenait une semence de vie,
le soleil de Bagdad dans un acte de révolte
avait ré-brillé nos âmes pour défier notre conscience;
une nouvelle dimension d’être
écho du cri de rêves
réémergeait des cendres de la dégénérée merde;
la superpuissance égoïste, vaste terre de la peine
et de la haine facile, tu réalisais ahurie,
que ton sort dépendait aussi des autres;
le principe malfaisant
voix de l’aliénation
aura été chassé, relégué dans les abysses
du lointain stage infantile des âmes emprisonnées.
Et la rose de la liberté est maintenant victorieuse
la vie aura gagné le combat pour la Beauté.
Vive la vie!
Le soleil de Bagdad a brillé encore!
Ô Splendeur!

Tontongi

sexta-feira, novembro 17, 2006

La mala suerte

Alguien marcó en mis manos,
tal vez hasta en la sombra de mis manos,
el signo avieso de los elegidos por los sicarios de la desventura.
Su tienda es mi morada.
Envuelta estoy en la sombría lona de unas alas que caen y que caen
llevando la distancia dondequiera que vaya,
sin acertar jamás con ningún paraíso a la medida de mis tentaciones,
con ningún episodio que se asemeje a mi aventura.
Nada. Antros donde no cabe ni siquiera el perfume de la perduración,
encierros atestados de mariposas negras, de cuervos y de anguilas,
agujeros por los que se evapora la luz del universo.
Faltan siempre peldaños para llegar y siempre sobran emboscadas y ausencias.
No, no es un guante de seda este destino.
No se adapta al relieve de mis huesos ni a la temperatura de mi piel,
y nada valen trampas ni exorcismos,
ni las maquinaciones del azar ni las jugadas del empeño.
No hay apuesta posible para mí.
Mi lugar está enfrente del sol que se desvía o de la isla que se aleja.
¿No huye acaso el piso con mis precarios bienes?
¿No se transforma en lobo cualquier puerta?
¿No vuelan en bandadas azules mis amigos y se trueca en carbón el oro que yo toco?
¿Qué más puedo esperar que estos prodigios?
Cuando arrojo mis redes no recojo más que vasijas rotas,
perros muertos, asombrosos desechos,
igual que el pobrecito pescador al comenzar la noche fantástica del cuento.
Pero no hay desenlace con aplausos y palmas para mí.
¿No era heroico perder? ¿No era intenso el peligro?
¿No era bella la arena?
Entre mi amado y yo siempre hubo una espada;
justo en medio de la pasión el filo helado, el fulgor venenoso
que anunciaba traiciones y alumbraba la herida en el final de la novela.
Arena, sólo arena, en el fondo de todos los ojos que me vieron.
¿Y ahora con qué lágrimas sazonaré mi sal,
con qué fuego de fiebres consteladas encenderé mi vino?
Si el bien perdido es lo ganado, mis posesiones son incalculables.
Pero cada posible desdicha es como un vértigo,
una provocación que la insaciable realidad acepta, más tarde o más temprano.
Más tarde o más temprano, estoy aquí para que mi temor se cumpla.

Olga Orozco

quinta-feira, novembro 16, 2006

La Habana, 1989

Existe un sinfín de cosas que hubiera deseado hacer.
Hubiese querido, por ejemplo, estar en una multitud -- New
York 1957 --
y ver pasar a Norma Jean, sonriendo desde un descapotable
y al igual que otros cientos gritarle: "te amo".
Quisiera haber podido cercenar el brazo que en 1948, en
Nueva Delhi
asesinó al hombre de la más grande alma.
Hubiese querido estar en Monterrey en 1967,
ebrio de blues,
y recoger cada pedado de corazón que la Joplin lanzara desde el
escenario./
Quisiera haber estado en Memphis -- 1968 --
y detener la bala racista que ultimó al rey de los pastores.
Pero estoy en La Habana, 1989,
y sólo me cabe morder la mano que trata de amordazarme.

Omar López Montenegro

quarta-feira, novembro 15, 2006

Mirage


Nobody told me when I was born
that my life would be harder than my father’s and son’s
lives.
Nobody told me when I was a child
that life was full of pits and tunnels and trackless
labyrinths.
Nobody told me when I was a youth
that my homeland was not a homeland
and that my enemy and friend are aligned against me
and my lover would be as fickle as a chameleon.
Nobody, except Brecht, told me when I was a young
man
that exiles are shoes,
and only Sartre told me
that political parties are religions,
and only Abu al-Atahiah told me that mankind is a
curse.
And when I became an adult,
I did not tell myself: beware of tomorrow.

Hashem Shafiq

terça-feira, novembro 14, 2006

Por el boulevar de los sueños rotos…

En el bulevar de los sueños rotos
vive una dama de poncho rojo,
pelo de plata y carne morena.
Mestiza ardiente de lengua libre,
gata valiente de piel de tigre
con voz de rayo de luna llena.

Por el bulevar de los sueños rotos
pasan de largo los terremotos
y hay un tequila por cada duda.
Cuando Agustín se sienta al piano
Diego Rivera, lápiz en mano,
dibuja a Frida Kahlo desnuda.

Se escapó de cárcel de amor,
de un delirio de alcohol,
de mil noches en vela.
Se dejó el corazón en Madrid
¡quien supiera reír
como llora Chavela!

Por el bulevar de los sueños rotos
desconsolados van los devotos
de San Antonio pidiendo besos
Ponme la mano aquí Macorina
rezan tus fieles por las cantinas,
Paloma Negra de los excesos.

Por el bulevar de los sueños rotos
moja una lágrima antiguas fotos
y una canción se burla del miedo.
Las amarguras no son amargas
cuando las canta Chavela Vargas
y las escribe un tal José Alfredo.



Las amarguras no son amargas
cuando las canta Chavela Vargas
y las escribe un tal José Alfredo.



Joaquín Sabina

Piensa en mi

Si tienes un hondo penar
piensa en mí;
si tienes ganas de llorar
piensa en mí.

Ya ves que venero
tu imagen divina,
tu párvula boca
que siendo tan niña,
me enseñó a besar.

Piensa en mí
cuando beses,
cuando llores
también piensa en mí.

Cuando quieras
quitarme la vida,
no la quiero para nada,
para nada me sirve sin ti.

Agustín Lara
(cantado por Chavela Vargas)

La Macorina

Ponme la mano aquí, Macorina,
ponme la mano aquí.

Tus pies dejaban la estera
y se escapaba tu saya
buscando la guardarraya
que al ver tu talle tan fino
las caña azucareras
se echaban por el camino
para que tu las molieras
como si fueses molino.
Ponme la mano ...

Tus senos carne de anó'
tu boca una bendición
de guanábana madura
y era tu fina cintura
la misma de aquel danzón.
Ponme la mano...

Después el amanecer
que de mis brazos te lleva
y yo sin saber qué hacer
de aquel olor a mujer
a mango y a caña nueva
con que me llenaste al son
caliente de aquel danzón.
Ponme la mano...

Chavela Vargas

État de siège (fragments)

Ici, aux pentes des collines, face au crépuscule
— et au canon du temps
Près des jardins aux ombres brisées,
Nous faisons ce que font les prisonniers,
Ce que font les chômeurs:
Nous cultivons l’espoir.

Un pays qui s’apprête à l’aube.
Nous devenons moins intelligents
Car nous épions l’heure de la victoire:
Pas de nuit dans notre nuit illuminée par le pilonnage
Nos ennemis veillent
— et nos ennemis allument pour nous la lumière
Dans l’obscurité des caves.

Ici, nul «moi»
Ici, Adam se souvient de la poussière de son argile.

Au bord de la mort, il dit:
Il ne me reste plus de trace à perdre:
Libre je suis tout près de ma liberté.
Mon futur est dans ma main.
Bientôt je pénètrerai ma vie,
Je naîtrai libre, sans parents,
Et je choisirai pour mon nom des lettres d’azur…

Vous qui vous dressez sur les seuils, entrez,
Buvez avec nous le café arabe
Vous ressentiriez que vous êtes hommes comme nous.
Vous qui vous dressez sur les seuils des maisons
Sortez de nos matins,
Nous serons rassurés d’être
Des hommes comme vous!

Quand disparaissent les avions, s’envolent les colombes
Blanches blanches elles lavent la joue du ciel
Avec des ailes libres, elles reprennent l’éclat et la possession
De l’éther et du jeu. Plus haut, plus haut s’envolent
Les colombes blanches, blanches blanches. Ah si le ciel
Était réel [m’a dit un homme passant entre deux bombes]

Les cyprès, derrière les soldats, des minarets protégeant
Le ciel de l’affaissement. Derrière la haie de fer
Des soldats pissent — sous la garde d’un char —
Et le jour automnal achève sa promenade d’or dans
Une rue vaste telle une église après la messe dominicale…

[À un tueur] Si tu avais contemplé le visage de la victime
Et réfléchi, tu te serais souvenu de ta mère dans la chambre
À gaz, tu te serais libéré de la raison du fusil
Et tu aurais changé d’avis: ce n’est pas ainsi
Qu’on retrouve une identité.

Le siège est attente
Attente sur une échelle inclinée au milieu de la tempête.

Seuls, nous sommes seuls jusqu’à la lie
S’il n’y avait la visite des arcs-en-ciel.

Nous avons des frères derrière cette étendue
Des frères bons. Ils nous aiment. Ils nous regardent
— et pleurent.
Puis ils se disent en secret:
«Ah! si ce siège était déclaré…» ils ne terminent pas leur phrase:
«Ne nous laissez pas seuls, ne nous laissez pas.»

Nos pertes: entre deux et huit martyrs chaque jour.
Et dix blessés.
Et vingt maisons.
Et cinquante oliviers…
S’y ajoute le poème, la pièce de théâtre et la toile inachevée.

Une femme a dit au nuage: couvre mon bien-aimé
Car mes vêtements sont trempés de son sang.

Si tu n’es pluie, mon amour
Sois arbre
Rassasié de fertilité, sois arbre
Si tu n’es pas arbre mon amour
Sois pierre
Saturée d’humidité, sois pierre
Si tu n’es pierre mon amour
Sois lune
Dans le songe de l’aimée, sois lune
[Ainsi parla une femme à son fils lors de son enterrement]

Ô veilleurs! N’êtes-vous pas lassés
De guetter la lumière dans notre sel
Et de l’incandescence de la rose dans notre blessure
N’êtes-vous pas lassés Ô veilleurs?

Un peu de cet infini absolu bleu
Suffirait
À alléger le fardeau de ce temps-ci
Et à nettoyer la fange de ce lieu

À l’âme de descendre de sa monture
Et de marcher sur ses pieds de soie
À mes côtés, main dans la main, tels deux amis
De longue date, qui se partagent le pain ancien
Et le verre de vin antique
Que nous traversions ensemble cette route
Ensuite nos jours emprunteront des directions différentes:
Moi, au-delà de la nature, quant à elle,
Elle choisira de s’accroupir sur un rocher élevé.

Sur mes décombres pousse verte l’ombre,
Et le loup somnole sur la peau de ma chèvre
Il rêve comme moi, comme l’ange
Que la vie est ici… non là-bas.

Dans l’état de siège, le temps devient espace
Pétrifié dans son éternité
Dans l’état de siège, l’espace devient temps
Qui a manqué son hier et son lendemain.

Le martyr m’encercle chaque fois que je vis
— un nouveau jour
Et m’interroge: Où étais-tu? Ramène aux dictionnaires
Toutes les paroles que tu m’as offertes
Et soulage les dormeurs du bourdonnement de l’écho.

Le martyr m’éclaire: je n’ai pas cherché au-delà de l’étendue
Les vierges de l’immortalité car j’aime la vie
Sur terre, parmi les pins et les figuiers,
Mais je ne peux y accéder, aussi y ai-je visé
Avec l’ultime chose qui m’appartienne:
Le sang dans le corps de l’azur.

Le martyr m’avertit: Ne crois pas leurs youyous
Crois mon père quand il observe ma photo en pleurant
Comment as-tu échangé nos rôles, mon fils,
Et m’as-tu précédé.
Moi d’abord, moi le premier.

Le martyr m’encercle: je n’ai pas changé
Que ma place et mes meubles frustes,
J’ai posé une gazelle sur mon lit.

Et un croissant lunaire sur mon doigt,
Pour apaiser ma peine.

Le siège durera afin de nous convaincre de choisir
Un asservissement qui ne nuit
Pas en toute liberté!

Résister signifie: s’assurer de la santé
Du cœur et des testicules, et de ton mal tenace:
Le mal de l’espoir.

Et dans ce qui reste de l’aube je marche vers mon extérieur
Et dans ce qui reste de la nuit, j’entends le bruit des pas en mon intérieur.

Salut à qui partage avec moi l’attention à
L’ivresse de la lumière, la lumière du papillon dans
La noirceur de ce tunnel.

Salut à qui partage avec moi mon verre
Dans l’épaisseur d’une nuit débordant les deux places:
Salut à mon spectre.

Pour moi mes amis apprêtent toujours une fête
D’adieu, une sépulture apaisante à l’ombre des chênes
Une épitaphe en marbre du temps
Et tours je les devance lors des funérailles:
Qui est mort… qui?

L’écriture, un chiot qui mord le néant
L’écriture blesse sans trace de sang.

Nos tasses de café. Les oiseaux les arbres verts
À l’ombre bleue, le soleil gambade d’un mur
À l’autre telle une gazelle
L’eau dans les nuages à la forme illimitée
Dans ce qu’il nous reste
Du ciel. Et d’autres choses aux souvenirs suspendus
Révèlent que ce matin est puissant splendide,
Et que nous sommes les invités de l’éternité.

Mahmoud Darwich

segunda-feira, novembro 13, 2006

Penélope escreve

É mais que certo: não sinto a tua falta.
Fiquei a tarde toda a arrumar os teus papéis,
a reler as cinco cartas que me foste endereçando
na semana que perdemos: tu no Alentejo,
eu debaixo de água. Fui depois regar as rosas
que deixaste no quintal. Sempre só e sem
carpir o meu estado (porque não me fazes falta),
pus o disco da Chavela que me deste no Natal
e comecei a preparar o teu prato preferido.
Cozinhar fez-me perder o apetite; por isso
abri uma garrafa de maduro e não me custa
confessar-te que não sinto a tua falta.
Por volta das dez horas, obriguei-me a recusar
dois convites pra sair (aleguei androfobia)
e estou neste momento a recortar a tua imagem
(não me fazes falta) nas fotos que possuo de nós dois,
de maneira a castigar com o cesto dos papéis
a inábil idiota que deixou que tu te fosses.



José Miguel Silva

sexta-feira, novembro 10, 2006

Dançar

Quando algum amigo entra pela primeira vez aqui em casa, estranha: que sala tão grande. Para que queres uma sala tão grande, tanto espaço?

Para dançar!
Somos todos bailarinos, aqui.
Até o Pintas já gosta de dançar. E dançamos ballet, free movement, character , salsas e merengues, fazemos pilates no sofá, ensaiamos coreografias novas e improvisamos muito!

Temos dias tão felizes, plenos da luz que nos entra pela janela imensa, plenos do mármore rosa no chão e que parecem os cravos de Pina Bauch!
Dançar.
Não imagino a minha vida sem música e sem dança, sem cor e sem movimento, sem amor e sem amizade, sem gestos e sem toques, sem beijos e sem ternura.
Dançar! Asas nos pés, nas mãos, no corpo todo. Asas no pensamento, na imaginação. Esquecemo-nos que temos corpo e contudo é quando ele se torna mais belo.
Dançamos sós, os três ou a dois, caímos no chão, levantamo-nos, erguemos os braços, voamos. Por vezes calçamos as sapatilhas, andamos em pontas. Flexibilidade, é preciso nunca perder, é preciso nunca deixar de DANÇAR!
E a Maria Ana ralha-me: Mãe..."tás a fazer" mal...ops, pois estou. Agora reaprendo contigo. Em troca ensino-te a nunca desistir, a seguir os sonhos, a amar. A acreditar.
E o Zé diz: mãe quero dançar, não quero ser soldado. Quero ouvir as músicas mais belas, muitas ainda estão por compor. Quero oferecer-tas, mãe.
Em troca, ensino-te a voar. Sempre atrás dos sonhos, a nunca desistir, a amar. A acreditar.
Senão, para que servem as mães? Não é para ensinarem os filhos a dançar?


i

quarta-feira, novembro 08, 2006

O Mundo à Minha Procura I

Voltar ao Campo Alegre foi para mim qualquer coisa de enorme na vida, mais importante do que ir à Lua, ou andar em órbita à volta da Terra.
O átrio do Campo Alegre é célebre, coisa de embasbacar. É um perfeito quadrado erguendo-se livre até vinte metros ou mais, tendo do primeiro andar uma enorme varanda quadrada que se debruça sobre o átrio e que serve todos os quartos na parte virada à luz. Lá no cimo, no cocuruto, estava uma forma de clarabóia, com varandim circular, de onde nós no Carnaval atirávamos serpentinas à cabeça de quem obrigatoriamente passava lá por baixo. No entanto, a grandeza do átrio mostrava-se, além da sua maravilhosa perspectiva de simetria, no andar nobre da casa que era o andar da entrada, ultrapassada a curta escadaria exterior.
O átrio do Campo Alegre apresentava o mercado da casa, o lugar de reunião, a ágora grega onde as pessoas vinham falar e discutiam os assuntos mais variados, onde cada um que saísse dos seus quartos estava imediatamente debaixo da alçada visual de um estranho ou de um desconhecido. Era a praça pública íntima dos familiares, lugar de suspiros ao chegar a casa e onde se dizia adeus pelo eco daqueles trinta metros acima que fazia ressoar a voz humana com um sentido correcto de simetria. As condições acústicas surgiam musicais. O mínimo som denunciava a presença de alguém, a mais íntima declaração amorosa estendia-se em pequenos timbres pelas colunas que suportavam a álea de quartos da casa.
Ruben A.

terça-feira, novembro 07, 2006

L´ Amour, l'amour

Kurzatmige Rentner in einem Pornokino
Verfolgten ohne rechten Glauben
Die schlecht gefilmten Spiele zweier lasziver Paare;
Eine Handlung gab es nicht.


Da hast du, so dachte ich, das Gesicht der Liebe,
Ihr urechtes Gesicht.
Die einen sind verführerisch; sie verführen immer,
Die anderen schwimmen so mit.


Es gibt weder Schicksal noch Treue,
Nur Körper, die einander begehren.
Ohne jede Zuneigung und vor allem ohne Mitleid,
Man spielt und man zerreißt.


Manche sind verführerisch und daher viel geliebt;
Sie dürfen den Orgasmus erleben.
Doch so viele andere sind müde und haben keinerlei Geheimnis,
Nicht mal Phantasien mehr;


Nur noch Einsamkeit, vertieft durch
Die schamlose Freude der Frauen;
Nur noch eine Gewissheit: »Das ist nicht für mich«,
Ein unscheinbares kleines Drama.


Im Sterben werden sie, das ist sicher, recht ernüchtert sein,
Von poetischen Illusionen befreit;
Sie werden die Kunst des Selbsthasses gründlich beherrschen,
Ganz automatisch.


Ich wende mich an alle, die nie jemand geliebt hat,
Die nie zu gefallen wussten;
Ich wende mich an die, die im befreiten Sex nicht vorkommen,
Im rohen Sinnengenuss.


Fürchtet euch nicht, Freunde, da verpasst ihr kaum etwas:
Die Liebe gibt es nirgendwo.
Das hier ist nur ein grausames Spiel, und ihr seid die Opfer;
Ein Spiel für Spezialisten nur.



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Dans un ciné porno, des retraités poussifs
Contemplaient, sans y croire,
Les ébats mal filmés de deux couples lascifs;
Il n'y avait pas d'histoire.


Et voila, me disais-je, le visage de l'amour,
L'authentique visage.
Certains sont seduisants; ils seduisent toujours,
Et les autres surnagent.


Il n'y a pas de destin ni de fidélité,
Mais des corps qui s'attirent.
Sans nul attachement et surtout sans pitié,
On joue et on déchire.


Certains sont seduisants et partant tres aimés;
Ils connaîtront l'orgasme.
Mais tant d'autres sont las et n'ont rien à cacher,
Même plus de fantasmes;


Juste une solitude aggravée par la joie
Impudique des femmes;
Juste une certitude: «Cela n'est pas pour moi»,
Un obscur petit drame.


Ils mourront c'est certain un peu désabusés,
Sans illusions lyriques;
Ils pratiqueront à fond l'art de se mépriser,
Ce sera mécanique.


Je m'adresse a tous ceux qu'on n'a jamais aimés,
Qui n'ont jamais su plaire;
Je m'adresse aux absents du sexe liberé,
Du plaisir ordinaire.


Ne craignez rien, amis, votre perte est minimé:
Nulle part l'amour n'existe.
C'est juste un jeu cruel dont vous êtes les victimes;
Un jeu de spécialistes.

Michel Houellebecq

domingo, novembro 05, 2006

Iniciação

Qual vela,que tem sede,
Eu beijo em verde mar,
Que Amor me dá e cede,
Amor por mim se mede,
E a Lua é luminar.

Fervor pela donzela,
Meu lume é cor de lis…
Uns chamam-lhe uma Estrela,
Alguns, a caravela,
Mas outros, Beatriz.

É nela que eu prossigo
Na vela para as ilhas.
Em procelas e p’rigo
Eu nado e vou contigo
Voando, em maravilhas.

Voando, vou ao céu.
Nadando, vou ao cume.
Mas é por ser mais eu
Que mato o mausoléu,
Que beijo, Amor, o lume.

Por isso, em minha barca,
Na branca, branca Lua,
Não há guia, nem marca,
Apenas matriarca
Já faz duma falua.

E, frater na viagem,
Ó flor, que eu seja forte.
Não há via, nem vagem,
Por isso ele é um pajem,
Ó Deus, até à morte.

Paulo Brito e Abreu

sábado, novembro 04, 2006

Tu pensas que os cardeais

Tu pensas que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.

Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez liquida e candente!

Todavia eu conheço a obstinada chama
do desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerência
dos seus astros dispersos.

Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas,
a adolescência do fogo nos labirintos negros.

Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.


António Ramos Rosa

quinta-feira, novembro 02, 2006

Taking a Riddle into the Tavern

For many years my heart wanted
something for me,.
not knowing that it was itself
what it wanted:

the desire for Jamshid's cup,
wherein all existence can be seen,
except for that chalice itself, that is.

There was a man beloved of God
who cried out to God, "Why
have you forsaken me?"

I took the riddle of this into a tavern
and asked the one who served.

He said, "Some secrets must be kept,
not told to the world at large.
The rosebud and the soul write mysteries
on their margins fold within fold.
Stay closed and wait."

"Your wine glass is the all-revealing cup!"

"Given before the creation."

"And what of that woman there
that I cannot forget?"

"Hafez," said the tavernmaster, "this love
within you that speaks needs
some restraint!"


Hafez
on-line hits.