quarta-feira, maio 31, 2006

Mar agitado

Quanto terror latente
nesse mar gelado
que desde sempre
levamos na alma

António Castañeda

segunda-feira, maio 29, 2006

O Boi da Paciência

Teoricamente livre para navegar entre estrelas
minha vida tem limites assassinos
Supliquei aos meus companheiros:
Mas fuzilem-me!
Inventei um deus só para que me matasse
Muralhei-me de amor
e o amor desabrigou-me
Escrevi cartas a minha mãe desesperadas
colori mitos e distribuí-me em segredo
e ao fim e ao cabo
recomeçar
Mas estou cansado de recomeçar!

António Ramos Rosa

quinta-feira, maio 25, 2006

Thanatos

En medio del camino de la Vida...
dijo Dante. Su verso se convierte:
En medio del camino de la Muerte.

Y no hay que aborrecer a la ignorada
emperatriz y reina de la Nada.
Por ella nuestra tela esta tejida,
y ella en la copa de los suenos vierte
un contrario nepente: ¡ella no olvida!

Rubén Darío

quarta-feira, maio 24, 2006

Sensation

Par les soirs bleus d'été, j'irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l'herbe menue,
Rêveur, j'en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.
Je ne parlerai pas, je ne penserai rien :
Mais l'amour infini me montera dans l'âme,
Et j'irai loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la nature, heureux comme avec une femme.

Rimbaud

terça-feira, maio 23, 2006

Les tableaux parisiens: Les Cimitières



Les pyramides d'Egypte, grandioses tombeaux de rois, ne peuvent provoquer une émotion plus grande que les cimetières parisiens.

Dans les premières, ce qu'on admire, ce sont seulement des blocs de pierre assemblés par le travail humain, la toute-puissance d'un tyran - d'autant plus étonnante qu'elle est plus artificielle et plus repoussante - et le monument d'un moment historique, une nation métamorphosée en pierre stupide.

Dans les seconds, nous distinguons clairement, malgré les tombes, tout un courant de vie, les débuts et les étapes du grand flux d'aujourd'hui, les combattants déjà tombés - alors que la lutte acharnée se poursuit -, gouttes éclaboussées sur les rives tandis que le fleuve vif et puissant se précipite en aval, se hâtant de porter le navire humain vers la mer éternelle de la civilisation et la liberté. Devant les pyramides, on profère des malédictions ; ici, les prières sont dites avec reconnaissance : des milliers de princes de l'esprit y reposent. De toutes ces pierres entassées sur eux, on pourrait faire une nouvelle série de pyramides. Nous regrettons même qu'ils soient enterrés sous ce poids énorme. Mais ces pierres ont été apportées par le respect, la reconnaissance et l'amour qui rendent la pierre supportable et même légère. Et quand on sort de cette ville des morts où logent des représentants de toutes les nations, au lieu du sable du désert, on baigne dans une mer humaine ; et au lieu du simoun étouffant, on respire un souffle plein de vie.
(...)
Jan Neruda

sexta-feira, maio 19, 2006

O Tempo, o mar e o melro

Hoje fomos à esplanada da praia no Guincho
ouvir a respiração do mar feita de sete ondas e seis silêncios
e enquanto isso falámos de coisas prosaicas
como o amor e outras que o são menos
como a vida e a morte e o tempo que entre elas decorre
no espírito na energia nas hipotéticas vidas passadas
em que tu acreditas e eu não
mas podemos sempre reconsiderar
reencarnações sucessivas na senda da perfeição
predicção do futuro que se calhar afinal não é futuro
e aqui alonguei-me numa explicação
que metia modelos matemáticos
e tu sorriste
porque de modelos matemáticos nada percebes
mas em contrapartida sabes muito do amor e dos afectos
e acima de tudo sabes muito da amizade
chegámos à conclusão que o Tempo não é uma linha recta
como sempre nos fizeram crer
o Tempo não cabe nos séculos tão pouco nos anos nos meses nos dias
o Tempo não é linear
partimos de uma premissa errada acerca do Tempo
e construímos todo o nosso pensamento as nossas expectativas
a partir de uma premissa errada
o tempo não é linear
sou céptica e fiz perguntas que te deixaram um pouco irritada
apontaste a incoerência do meu cepticismo
uma vez que tinha acabado de estar duas horas com N
o meu encontro mensal com ela que mais não é que a minha paz
No título está o Tempo, o mar e o melro
vou ter por isso que te falar do melro
não te falei nele no Guincho porque não achei oportuno
mas quando me levantei para fotografar o mar
vi um melro
e quando vejo um melro sei quem é
porque ele tinha uma predilecção especial por melros
eram os seus pássaros preferidos desde criança
contava-nos histórias e mais histórias
algumas seriam inventadas mas mesmo assim verdadeiras
sobre os melros da sua infância
por isso desde que morreu quando vejo um melro
sei que é ele
ele hoje esteve ali e ouviu-nos falar
de coisas que não sabemos ao certo o que são

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