quinta-feira, dezembro 29, 2005

Lo Fatal

A René Perez

Dichoso el árbol que es apenas sensitivo,
y más la piedra dura porque esa ya no siente,
pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo,
ni mayor pesadumbre que la vida consciente.

Ser, y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,
y el temor de haber sido y un futuro terror...
Y el espanto seguro de estar mañana muerto,
y sufrir por la vida y por la sombra y por

lo que no conocemos y apenas sospechamos,
y la carne que tienta con sus frescos racimos,
y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos,
y no saber adónde vamos,
ni de dónde venimos!...


Ruben Dario

quinta-feira, dezembro 22, 2005

The City

You said: "I'll go to another country, go to another shore,
find another city better than this one.
Whatever I try to do is fated to turn out wrong
and my heart lies buried like something dead.

How long can I let my mind moulder in this place?
Wherever I turn, wherever I look,
I see the black ruins of my life, here,
where I've spent so many years, wasted them, destroyed them totally."
You won't find a new country, won't find another shore.
This city will always pursue you.
You'll walk the same streets, grow old
in the same neighborhoods, turn gray in these same houses.
You'll always end up in this city. Don't hope for things elsewhere:
there's no ship for you, there's no road.
Now that you've wasted your life here, in this small corner,
you've destroyed it everywhere in the world.

Constantine P. Cavafy

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Quién sabe

¿Te importa mucho que dios exista?
¿te importa que una nebulosa te dibuje el
destino?
¿que tus oraciones carezcan de
interlocutor?
¿que el gran hacedor pueda ser el gran
injusto?
¿que los torturadores puedan ser hijos de
dios?
¿que haya que amar a dios sobre todas
las cosas
y no sobre todos los prójimos y prójimas?
¿Has pensado que amar al dios intangible
suele producir un tangible sufrimiento
y que amar a un palpable cuerpo de
muchacha
produce en cambio un placer casi infinito?
¿acaso creer en dios te borra del humano
placer?
¿habrá dios sentido placer al crear a eva?
¿habrá adán sentido placer cuando
inventó a dios?
¿acaso dios te ayuda cuando tu cuerpo
sufre?
¿o no es ni siquiera una confiable
anestesia?
¿te importa mucho que dios exista? ¿o
no?
¿su no existencia sería para ti una
catástrofe
más terrible que la muerte pura y dura?
¿te importará si te enteras que dios existe
pero está inmerso en el centro de la nada?
¿te importará que desde el centro de la
nada
se ignore todo y en consecuencia nada
cuente?
¿te importaría la presunción
de que si bien tú existes
dios quién sabe

Mario Benedetti

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Al tumulo del rey Felipe II en Sevilla

Voto a Dios que me espanta esta grandeza
Y que diera un doblón por describilla,
porque ¿a quién no sorprende y maravilla
esta máquina insigne, esta riqueza?

Por Jesucristo vivo, cada pieza
vale más de un millón, y que es mancilla
que esto no dure un siglo, ¡oh gran Sevilla!,
Roma triunfante en ánimo y nobleza.

Apostaré que el ánima del muerto
por gozar este sitio hoy ha dejado
la gloria donde vive eternamente.

Esto oyó un valentón y dijo: "Es cierto
cuanto dice voacé, seor soldado,
Y el que dijere lo contrario, miente."

Y luego, incontinente,
caló el chapeo, requirió la espada
miró al soslayo, fuése y no huvo nada.

Miguel de Cervantes

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Odeio este tempo detergente

Odeio este tempo detergente
um tempo português que até utilizou
os primeiros acordes da quinta sinfonia de beethoven
como indicativo da voz do ocidente
chamada actualmente a emissão em línguas estrangeiras
um tempo que parou e só mudou
o nome que puseram num mundo que muda
a coisas que afinal permaneceram
um tempo português que alguma vez até em camões vê
o antecessor e criador de coisa como a nato
com a profética visão de quem consegue conceber tal obra
bem pouco literária por sinal e só possível graças 'a visão
de quem com um só olho vê as coisas quatrocentos anos antes
Odeio este meu tempo detergente
de uma poesia que discreta até se erótica antigamente
hoje se prostitui numa publicidade
devida a algum poeta público que a certo detergente
deu de repente esse teu nome musical de musa
a ti precisamente a ti nesse teu rosto sorridente
onde o poeta público publicitário porventura viu
sobressair teu riso nesse território de alegria
e a brancura mais alva nesses dentes alvejar
E eu que faço eu aqui em todo este tempo detergente quando
sinto subitamente cem saudades tuas
que posso que não seja odiar mais um meio que jamais
tentaria impedir evitaria um tempo que consente até contente
que faças dentro em pouco um ano mais
um meio onde nem mesmo eu mulher afinal sei
que terei de fazer para deter ao menos um momento essa tua idade
a tua juventude se possível anos antes de haver-te conhecido
por acaso e já tarde na cidade onde nasceste
cidade que unamuno diz viver morrer apenas por amor
amor morto ou mortal mas amor imortal
cidade solidão as ruas muita gente os sons o sol
difusos e confusos corredores de uma faculdade
folhas que se renovam rostos que outros rostos
tão firmes tão presentes permanentes um só ano antes
friamente destroem sem deixar sequer
ao menos uma marca nessa fria impassível pedra
o tempo os sóis dos séculos cingindo os cintos da cidade
dessa cidade onde o povo morre novo à volta
do mesmo monumento destinado a exaltá-lo
cidade onde afinal a paisagem é pretexto para o homem
cidade portuguesa ó portugal ó parte da hispânia maior
maneira triste de se ser ibéria onde
da terra emerge o homem que depois o rosto nela imerge
ó portugal dos pescadores de espinho
espinho do suicida laranjeira espinho praia
antiga amiga e conhecida de unamuno
a praia dos seus últimos passeios portugueses
angústia atlântica e odor ó dor olor a campo
praia que so' existe quando alguém a veste
coisa que foi somente quando tu mulher a viste
Aqui em portugal aqui na vasta praia portuguesa
aqui nasci e ao nascer morri
como morri a morte que por sorte sempre tive
pesadamente do mais alto do meu peso dos meus anos
em cada um dos sítios onde um dia estive
Aqui tive dezasseis anos aos dezasseis anos
aqui só vejo pés há muitos anos já
Aqui o meu chapéu de chuva mais ao sul aceita em chapa o sol
chapéu que fecho quando fecha o sol definidor do dia
Tive um passado agora inacessível um passado
tão alto como a torre do relógio da aldeia
que pontual pontua a passagem do tempo
um tempo não ainda detergente um tempo
afinal só visível no sensível alastrar da sombra
ao longo desse pátio só possível ao adolescente
que mais tarde e mais só e de maneira mais sensível
mais só se sentirá no meio da imensa gente
que se sentia ali entre a andorinha e a nespereira
Não o sabia então mas dominava um mundo
esse mundo que espero que me espere um dia ao fundo
lá quando findo o dia sob o chão me afundo e ao final
em terra e em verdade é que me fundo
Mas eu aqui completamente envolto neste tempo detergente
é da segunda-feira e da semana que preciso pois
posso lutar melhor por uma luz melhor
do que esta luz do mar à hora do entardecer
É da cidade é da publicidade é da perversidade
que preciso e não tenho aqui na praia
Não tenho nem o mar nem tão rudimentar
a técnica de olhar alguém as minhas mãos
para me devassar a vã vida privada
É de inverno é domingo estou sozinho aqui na praia
regresso a casa à noite apanho eu próprio a roupa no quintal
e tenho a sensação de quem alguma coisa
faz pela primeira e sente bem ou mal
que tarde toma agora o seu banho lustral

Ruy Belo
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