sexta-feira, junho 30, 2006

La ciudad

Dijiste: "Iré a otra ciudad, iré a otro mar.
Otra ciudad ha de hallarse mejor que ésta.
Todo esfuerzo mío es una condena escrita;
y está mi corazón - como un cadáver - sepultado.
Mi espíritu hasta cuándo permanecerá en este marasmo.
Donde mis ojos vuelva, donde quiera que mire
oscuras ruinas de mi vida veo aquí,
donde tantos años pasé y destruí y perdí".

Nuevas tierras no hallarás, no hallarás otros mares.
La ciudad te seguirá. Vagarás
por las mismas calles. Y en los mismos barrios te harás viejo
y en estas mismas casas encanecerás.
Siempre llegarás a esta ciudad. Para otro lugar -no esperes-
no hay barco para ti, no hay camino.
Así como tu vida la arruinaste aquí
en este rincón pequeño, en toda tierra la destruiste.

Konstandinos Kavafis

quinta-feira, junho 29, 2006

Miércoles, día del espectador

No se descarta que al salir del cine
una pareja cuente con nuevos enemigos.
La pelicula es mala,
las sombras buscan cuerpos para encontrar deseos,
se oyen voces de actores,
imágenes dudosas,
pero los labios son materia viva
en las butacas observadas
y los botones pierden su vergüenza.
Suena un disparo inútil,
la camisa deshecha,
la mano que naufraga entre los muslos.
Se persiguen dos coches por tus hombros
y estalla un edificio,
una lengua de fuego en la ventana,
llamas que desesperan vientre abajo,
el pelo negro por la mano abierta,
negro como la vida en la pantalla,
como el silencio del actor que mira,
del acomodador,
del público encendido.
Ya no tienen edad para estas cosas,
comienta el matrimonio da la última fila.
Y pienso que es verdad. No se descarta,
no se descarta que al salir del cine
una pareja cuente con nuevos enemigos.

Luis Garcia Montero

Delicatessen



Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais. Das criaturas. Vá lá. Gosto de voltar a este tema.
Outro dia apareceu uma moça aqui. Esguia, graciosa, pedindo que eu autografasse meu livro de poesia, "tá quentinho, comprei agora". Conversamos uns quinze minutos, era a hora do almoço, parecia tão meiga, convidei-a para almoçar, agradeceu muito, disse-me que eu era sua "ídala", mas ia almoçar com alguém e não podia perder esse almoço. Alguém especial?, perguntei. Respondeu nítida: "pé-de-porco". Não entendi. Como? "Adoro pé-de-porco, pé-de-boi também". Ahn... interessante, respondi. E ela se foi apressada no seu Fusquinha. Não sei por que não perguntei se ela gostava também de cu de leão.
Enfim, fiquei pasma. Surpresas logo de manhã.
Olga, uma querida amiga passando alguns dias aqui conosco, me diz: pois você sabe que me trouxeram uma noite um pé-perna de porco, todo recheado de inverossímeis, como uma delicadeza para o jantar? Parecia uma bota. Do demo, naturalmente.
E lendo uma entrevista com W. H. Auden, um inglês muito sofisticado, o entrevistador pergunta-lhe: "O que aconteceu com seus gatos?" Resposta: "Tivemos que matá-los, pois nossa governanta faleceu". Auden também gostava de miolo, língua, dobradinha, chouriços e achava que "bife" era uma coisa para as classes mais baixas, "de um mau gosto terrível", ele enfatiza.
E um outro cara que eu conheci, todo tímido, parecia sempre um urso triste, também gostava de poesia... Uma tarde veio se despedir, ia morar em Minas... Perguntei: "E todos aqueles gatos de que você gostava tanto?" Resposta: "Tive de matá-los". "Mas por quê?!" Resposta: "Porque gatos gostam da casa e a dona que comprou minha casa não queria os gatos". "Você não podia soltá-los em algum lugar, tentar dar alguns?" Olhou-me aparvalhado: "Mas onde? Pra quem?" "E como você os matou?" "A pauladas", respondeu tranqüilo, como se tivesse dado uma morte feliz a todos eles.
E por aí a gente pode ir, ao infinito.
Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro. E aquele lá de cima, o Incognoscível, em que centésima carreira de pó cintilante sua bela narina se encontrava quando teve a idéia de criar criaturas e juntá-las?
Oscar, traga os meus sais.


Hilda Hilst

segunda-feira, junho 26, 2006

As velas ardem até ao fim

Afinal, uma pessoa responde sempre com a sua vida inteira às perguntas mais importantes.
Não importa o que diz entretanto, com que palavras e argumentos se defende.
No fim, no fim de tudo, com os fatos da sua vida responde às perguntas que o mundo lhe dirigiu com tanta insistência.
Essas perguntas são as seguintes: Quem és tu?... Que querias realmente?... Que sabias realmente?... A que foste fiel ou infiel?... A quê ou a quem mostraste ser corajoso ou cobarde?...São essas as perguntas.
E uma pessoa responde como pode, duma maneira sincera ou mentindo; mas isso não tem grande importância.
O importante é que no fim, uma pessoa responde com toda a sua vida.

Sándor Márai

Lágrima celeste

Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar!

Ah! se tu não fosses
lágrima do céu,
lágrimas tão doces
não chorava eu.

Se eu nunca te visse,
bonina do vale,
talvez não sentisse
nunca amor igual.

Pomba debandada,
que é dos filhos teus?
Luz da madrugada,
luz dos olhos meus!

Meu suspiro eterno,
meu eterno amor,
de um olhar mais terno
que o abrir da flor.

Quando o néctar chora
que se lhe introduz
ao romper da aurora
e ao raiar da luz!

Esta voz te enleve,
este adeus lá soe,
o Senhor to leve
e Deus te abençoe.

O Senhor te diga
se te adoro ou não,
minha doce amiga
do meu coração!

Se de ti me esqueço
ou já me esqueci,
ou se mais lhe peço
do que ver-te a ti!

A ti, que amo tanto
como a flor a luz,
como a ave o canto,
e o Cordeiro a Cruz;

A campa o cipreste,
a rola o seu par,
lágrima celeste,
pérola do mar.

Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar?


João de Deus

Letreiro

Tudo o que sou o sou por obra e graça
da comoção rural que está comigo.
Foi a virtude lírica da Raça
a herança que eu herdei do sangue antigo.

Foi esta voz que em minhas veias passa
e atrás da qual, maravilhado eu sigo.
Como um licor de encanto numa taça,
assim se quer esse condão comigo.

Olhai-me: Eu vim de honrados lavradores.
De avós e netos, sempre os meus Maiores
fitaram o horizonte que hoje eu fito.

«O que estaria além da curva estreita?»
E da pergunta, a cada instante Feita.
nasceu em mim a ânsia prò Infinito.

António Sardinha

sexta-feira, junho 23, 2006

What the Tortoise Said to Achilles


Achilles had overtaken the Tortoise, and had seated himself comfortably on its back.
“So you’ve got to the end of our race-course?” said the Tortoise. “Even though it DOES consist of an infinite series of distances? I thought some wiseacre or other had proved that the thing couldn’t be done?”
“It CAN be done,” said Achilles. “It HAS been done! Solvitur ambulando. You see the distances were constantly DIMINISHING; and so –”
“But if they had been constantly INCREASING?” the Tortoise interrupted. “How then?”
“Then I shouldn’t be here,” Achilles modestly replied; “and YOU would have got several times round the world, by this time!”
“You flatter me – FLATTEN, I mean,” said the Tortoise; “for you ARE a heavy weight, and NO mistake! Well now, would you like to hear of a race-course, that most people fancy they can get to the end of in two or three steps, while it REALLY consists of an infinite number of distances, each one longer than the previous one?”
“Very much indeed!” said the Grecian warrior, as he drew from his helmet (few Grecian warriors possessed POCKETS in those days) an enormous note-book and pencil. “Proceed! And speak SLOWLY, please! SHORTHAND isn’t invented yet!”
“That beautiful First Proposition by Euclid!” the Tortoise murmured dreamily. “You admire Euclid?”
“Passionately! So far, at least, as one CAN admire a treatise that won’t be published for some centuries to come!”
“Well, now, let’s take a little bit of the argument in that First Proposition – just TWO steps, and the conclusion drawn from them. Kindly enter them in your note-book. And in order to refer to them conveniently, let’s call them A, B, and Z: –
(A) Things that are equal to the same are equal to each other.
(B) The two sides of this Triangle are things that are equal to the same.
(Z) The two sides of this Triangle are equal to each other.

Readers of Euclid will grant, I suppose, that Z follows logically from A and B, so that any one who accepts A and B as true, MUST accept Z as true?”
“Undoubtedly! The youngest child in a High School – as soon as High Schools are invented, which will not be till some two thousand years later – will grant THAT.”
“And if some reader had NOT yet accepted A and B as true, he might still accept the SEQUENCE as a VALID one, I suppose?”
“No doubt such a reader might exist. He might say, ‘I accept as true the Hypothetical Proposition that, if A and B be true, Z must be true; but I DON’T accept A and B as true.’ Such a reader would do wisely in abandoning Euclid, and taking to football.”
“And might there not ALSO be some reader who would say ‘I accept A and B as true, but I DON’T accept the Hypothetical’?”
“Certainly there might. HE, also, had better take to football.”
“And NEITHER of these readers,” the Tortoise continued, “is AS YET under any logical necessity to accept Z as true?”
“Quite so,” Achilles assented.
“Well, now, I want you to consider ME as a reader of the SECOND kind, and to force me, logically, to accept Z as true.”
“A tortoise playing football would be –” Achilles was beginning.
“– an anomaly, of course,” the Tortoise hastily interrupted. “Don’t wander from the point. Let’s have Z first, and football afterwards!”
“I’m to force you to accept Z, am I?” Achilles said musingly. “And your present position is that you accept A and B, but you DON’T accept the Hypothetical –”
“Let’s call it C,” said the Tortoise.
“– but you DON’T accept
(C) If A and B are true, Z must be true.”

“That is my present position,” said the Tortoise.
“Then I must ask you to accept C.”
“I’ll do so,” said the Tortoise, “as soon as you’ve entered it in that notebook of yours. What else have you got in it?”
“Only a few memoranda,” said Achilles, nervously fluttering the leaves: “a few memoranda of – of the battles in which I have distinguished myself!”
“Plenty of blank leaves, I see!” the Tortoise cheerily remarked. “We shall need them ALL!” (Achilles shuddered.) “Now write as I dictate: –
(A) Things that are equal to the same are equal to each other.
(B) The two sides of this Triangle are things that are equal to the same.
(C) If A and B are true, Z must be true.
(Z) The two sides of this Triangle are equal to each other.

“You should call it D, not Z,” said Achilles. “It comes NEXT to the other three. If you accept A and B and C, you MUST accept Z.”
“And why must I?”
“Because it follows LOGICALLY from them. If A and B and C are true, Z MUST be true. You can’t dispute THAT, I imagine?”
“If A and B and C are true, Z MUST be true,” the Tortoise thoughtfully repeated. “That’s ANOTHER Hypothetical, isn’t it? And, if I failed to see its truth, I might accept A and B and C, and STILL not accept Z, mightn’t I?”
“You might,” the candid hero admitted; “though such obtuseness would certainly be phenomenal. Still, the event is POSSIBLE. So I must ask you to grant ONE more Hypothetical.”
“Very good, I’m quite willing to grant it, as soon as you’ve written it down. We will call it
(D) If A and B and C are true, Z must be true.

Have you entered that in your note-book?”
“I HAVE!” Achilles joyfully exclaimed, as he ran the pencil into its sheath. “And at last we’ve got to the end of this ideal race-course! Now that you accept A and B and C and D, OF COURSE you accept Z.”
“Do I?” said the Tortoise innocently. “Let’s make that quite clear. I accept A and B and C and D. Suppose I STILL refused to accept Z?“
“Then Logic would take you by the throat, and FORCE you to do it!” Achilles triumphantly replied. “Logic would tell you, ‘You can’t help yourself. Now that you’ve accepted A and B and C and D, you MUST accept Z.’ So you’ve no choice, you see.”
“Whatever LOGIC is good enough to tell me is worth WRITING DOWN,” said the Tortoise. “So enter it in your book, please. We will call it
(E) If A and B and C and D are true, Z must be true.
Until I’ve granted THAT, of course I needn’t grant Z. So it’s quite a NECESSARY step, you see?”
“I see,” said Achilles; and there was a touch of sadness in his tone.
Here the narrator, having pressing business at the Bank, was obliged to leave the happy pair, and did not again pass the spot until some months afterwards. When he did so, Achilles was still seated on the back of the much-enduring Tortoise, and was writing in his notebook, which appeared to be nearly full. The Tortoise was saying, “Have you got that last step written down? Unless I've lost count, that makes a thousand and one. There are several millions more to come. And WOULD you mind, as a personal favour, considering what a lot of instruction this colloquy of ours will provide for the Logicians of the Nineteenth Century – WOULD you mind adopting a pun that my cousin the Mock-Turtle will then make, and allowing yourself to be renamed TAUGHT-US?”
“As you please,” replied the weary warrior, in the hollow tones of despair, as he buried his face in his hands. “Provided that YOU, for YOUR part, will adopt a pun the Mock-Turtle never made, and allow yourself to be re-named A KILL-EASE!”


Lewis Carroll

Baise m'encore

Baise m´encore, rebaise moi et baise:
Donne m´en un de tes plus savoureux,
Donne m´en un de tes plus amoureux:
Je t´en rendrai quatre plus chauds que braise.


Las, te plains-tu? Ça que ce mal j´apaise
En t´en donnant dix autres doucereux,
Ainsi mêlant nos baisers tant heureux
Jouissons-nous l´un de l´autre à notre aise.


Lors double vie à chacun en suivra,
Chacun en soi et son ami vivra.
Permets m´amour penser quelque folie:


Toujours suis mal, vivant discrètement,
Et ne me puis donner contentement
Si, hors de moi, ne fais quelque saillie.


Louise Labé

?

Vós que em sombrios e fatais acentos
Nestes meus pobres versos escutais
Males de amor, que não conheço iguais,
E o som dos meus tristíssimos lamentos,
Perdão e apreço por meus sofrimentos
Se neles algum mérito encontrais
Possa eu talvez achar entre os mortais
Pois têm sublime causa os meus tormentos.
E que outros digam: "Foi feliz assim
Essa mulher, que por nobre razão
Teve tamanha dor que suportar!
Oh, mas por que tanta fortuna a mim
Não vem, por tal senhor tanta paixão
Para que a ela eu possa me igualar?"


Gaspara Stampa

Perdoar e esquecer

Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo.
Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio nos faz algo de desagradável ou irritante, temos apenas de nos perguntar se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita segunda vez e com frequência semelhante tratamento, e até de maneira mais grave.
Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos a expor-nos à sua repetição.
Em caso negativo, temos de romper de modo imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois, quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exactamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de, nesse momento, nos assegurar o contrário de modo profundo e sincero.
Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o carácter é absolutamente incorrigível e todas as acções humanas brotam de um princípio íntimo, em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (...)
Por conseguinte, reconciliarmo-nos com o amigo com quem rompemos relações é uma fraqueza pela qual se expiará quando, na primeira oportunidade, ele fizer exactamente a mesma coisa que produziu a ruptura, até com mais ousadia, munido da consciência secreta da sua imprescindibilidade.


Schopenhauer

Poesia Matemática

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.


Millôr Fernandes

sábado, junho 17, 2006

Um amor feliz

(...)Chegar, deitar-se: por vezes os dois actos sucedem-se e encadeiam-se com tal rapidez como se entre ambos não decorre, hesitante ou cegamente precipitada, aquela operação, um tanto mágica à força de tão simples, de primeiro se descalçar, de logo em seguida se despir.

Deitada de través em cima do largo divã, os seus braços tomam de súbito a postura de dois ramos oblíquos, na quase pânica expectativa de sentir-se adorada. Devagar os vai depois estreitando, até que ficam inteiramente estirados para trás; mas já as pernas entretanto começaram a reproduzir, em posição inversa, o grafismo da mesma letra.

Digamos, para simplificar, que se chama Y. (E surpreendo-me a murmurar: Ípsilon...) Além de não querer nem poder dizer o seu nome, o nome é o que menos interessa; ou o que menos deveria interessar-nos. Mas só o facto de lhe chamar Y já a torna diferente de quem ela é, de quem eu julgo que ela seja.(...)

David Mourão-Ferreira

Lied

Telefonaste-me :
Vem e traz as gargalhadas

E saímos de Lisboa animadíssimas
contavas-me que tinhas ido àcinemateca
ver o documentário sobre Jorge de Sena

Fomos pela A8 a ouvir jóias de Schumann
Subimos ao universo do Lied em Alcobaça
Jantámos com os músicos e cantores
Ouvimos musica de chorar por mais
Dormimos no hotel das Termas
Vimos o mar da Nazaré
Visitámos a quinta de Celas
Música de novo no Mosteiro de Cós

Foi tão bom
mas estive sempre com esta tristeza

Mesmo assim rimo-nos
de tudo e de nada

Sentámo-nos na esplanada a ver passar
as excursões vindas do país profundo
e pensámos à uma como são deprimentes

Contaste-me o que dizia não-sei-quem no documentário:
Os portugueses são anõezinhos e
quando
algum cresce um bocadinho acima dos outros
corta-se logo lima-se apara-se
não se deixa crescer

Telefonou o teu ex marido e rompemos em gargalhadas
que lhe justificaste singelamente dizendo:
estou a rir-me porque tive aqui um problema
com uma batata frita

Só tu

Depois disseste-me
ele é um porco espinho de cornos
com a nova mulher que arranjou

Dissertámos um pouco sobre vários homens
que são porcos espinhos de cornos
sem que nunca tenham desconfiado que o são
e que pensam que apenas nós o somos.

Tanta perversidade
fez-nos rir de novo

Estavamos tão felizes.

Isabel

quarta-feira, junho 14, 2006

En plena tempestad


El día después siempre es tranquilo, ya se sabe, la resaca y el cansancio hacen que esté tirado como un muerto en el sillón mirando la tele aunque me importe una mierda lo que estén echando en ella. Sin embargo, hoy me he levantado de muy mala leche, y con impulsos homicidas y suicidas. Ha aflorado mi odio a este mundo y a esta vida y a mi mismo por estar en ella. Pongo Presuntos Implicados en la cadena de música, me gusta su voz y me gustan sus canciones, me relajan y quizás consiga ponerme en paz conmigo mismo y el mundo. Tengo ganas de llorar pero no lo consigo, la rabia me lo impiden, desearía golpearlo todo y tirarlo por la ventana y luego yo detrás, pero vivo en un primero, ¡no vale la pena!. Odio y rabia, tristeza y derrota, cansancio y resaca, todo esto a la vez es lo que siento, y la verdad, levantarse así es asqueroso, o mejor dicho, levantarse a un nuevo día es asqueroso.




Nos echan a este mundo, y nadie nos ha preguntado si queríamos nacer, nadie nos previene de lo que nos espera, ingenuo pensamiento el que dice que la vida es un don, algo que deberíamos agradecer cada día que nos despertamos y cada día que pasamos y seguimos aquí...
Yo pienso (y empiezo a pensar que pienso demasiado) que también puede ser una carga, una pesada carga, que día a día algunos de nosotros llevamos encima sin poder quitárnosla, pero deseando hacerlo. No estoy loco, nadie debe juzgar que mi lucidez significa locura, ¿o quizás sí?, y por eso los cuerdos están en el manicomio.
Lo he intentado, claro que lo he intentado, pero la ¿gracia? del asunto es que he fracasado... Así que aquí sigo, sin saber muy bien qué hacer.
Una de las cosas que tengo más claras, es que la sociedad tal como es ahora, no me gusta, vivo en ella porque no me queda otro remedio, y porque al mismo tiempo que la aborrezco, la necesito para subsistir. Pero no me gusta, quizás en lugar de ¿avanzar? tanto en el campo de la tecnología, de la ciencia, del consumismo,... Deberíamos pararnos en seco y mirar atrás, mirar lo que vamos dejando a nuestra espalda, recapacitar y meditar en si realmente estamos siguiendo el camino correcto, o por el contrario, estamos destruyéndolo todo a nuestro paso como Atilas de pacotilla.
Mi pesimismo, como le llaman los demás, o lucidez, como le llamo yo, es una pesada carga que tampoco pedí llevar. Es difícil vivir así, y casi merezco una medalla por, a pesar de todo esto, seguir levantándome cada día, ir al trabajo y colaborar en algo que no deseo que siga así, sino aniquilarlo.
La aniquilación es renovación, porque al final de ella, la vida (esa eterna inmortal) vuelve a resurgir... Si tuviese el poder, destruiría al hombre, limpiaría de la tierra su huella y la dejaría libre para que la naturaleza recupere lo que siempre ha sido suyo. Y quizá, en un futuro lejano, la evolución haría que un nuevo ser inteligente poblara este planeta. Porque no considero que el hombre sea un ser superior, ni inteligente, creo que es un ser peligroso por su gran (casi ilimitada) capacidad de contaminación. Y su carente capacidad de creación, allí donde toca, la caga. Dejando un montón de mierda a su paso.

¿POR QUÉ ESTOY AQUÍ?
¿POR QUÉ NADIE ME AVISÓ?
¿POR QUÉ, PADRES, ME OBLIGASTEIS A NACER?
¿POR QUÉ A CADA PASO QUE DOY TENGO LA SENSACIÓN DE NO AVANZAR?
¿POR QUÉ PIENSO DEMASIADO?
¿POR QUÉ NO PUEDO ESTAR IDIOTIZADO COMO LA GRAN MAYORIA?
¿POR QUÉ?... ¿POR QUÉ?... ¿POR QUÉ?...




Me pregunto muchas veces porqué soy así, porque tengo que ser tan consciente de que la vida es una mierda, que tal como la vivimos, tal como la sociedad nos impone una rutina, unas obligaciones, unas normas, unas prohibiciones,... es difícil vivir, es un sinsentido, esto no es vida, y a veces pienso que para vivir así, mejor no vivir.
Hay quién se pone metas, objetivos, cree en algo: en un dios, en el amor,... pero es difícil creer en algo, sino crees siquiera en ti mismo y en que tiene algún sentido el que cada día te levantes, vayas al trabajo, te conviertas en una especie de máquina durante unas ocho horas y luego vuelta a casa,.... ... ... ... y así día tras día. Nadie está contento y sin embargo no hacemos nada por cambiar las cosas porque no sabemos qué es lo que podemos hacer, no sabemos cual es la solución porque no la hay, la única solución, y aunque parezca absurda, es vivir en una dulce ignorancia, ser un iluso, un estúpido que no piensa ni ve más allá que lo que alcance su mirada. No aspirar a nada más que las migajas del pastel que caigan en tus manos, y ya está, ser un conformista, sin apenas voluntad ni decisión, una especie de marioneta que ni de moverse se preocupa porque ya hay otros que se encargan de ello.
No vale la pena, ¿para qué?... en fin, vivo aburrido y escéptico. ¿La amistad? ¿el amor? ¿la familia?, conceptos que poco me dicen ya, y quizás no sea por desengaños sino porque no creo en sentimientos que son imposibles en una sociedad como esta, o en una vida como esta. El hombre está condenado a no vivir en paz nunca, allá donde vaya, se sentirá obligado a cambiarlo todo y a adaptarlo a su gusto, con la excusa de que es lo mejor. Así va destruyéndolo todo y creando mierda a su alrededor, porque si algo hay perdurable que pueda crear el hombre es mierda: suciedad y basura allá por donde pasa.

No existe un dios, no existe un diablo, estamos solos ante nuestro destino y de él deberíamos ser dueños, pero no es así, nos imponemos normas, absurdas en su mayoría para dominar la vida y las acciones de los demás. No existe un dios, no existe un diablo, porque si así fuese, ya se hubiesen encargado de destruir la humanidad, en vista de lo imperfecto de su naturaleza. El hombre es un gran fallo en la naturaleza, una imperfección, un virus que mata poco a poco.
Quizás existan, y quizás no lo destruyen ¿porqué quién creería entonces en ellos?, ¿cual seria la razón de su 'existencia', ya que el hombre es el único ser 'racional' sobre este planeta que puede crear y creer en cosas irreales como entes superiores, ¿quién entonces iba a creer en ellos?, ¿quién iba a adorarlos y a alimentar su vanidad?.

No creo que le haya pedido demasiado a la vida, en realidad bien poco, esperaba algo más y ese algo más no ha llegado y no llegará (me temo). Sinceramente me gustaría estar a gusto con lo que tengo, y es eso precisamente lo que quiero pero no lo consigo, siempre quiero algo diferente a lo que tengo y cuando obtengo ese algo distinto (cuando lo logro) parece que ya no es tan bueno como pensaba o parecía, y es cuando miro hacia otro lado (para tratar de olvidar de eso que tengo y que no es lo que yo quería) y descubro que no, que estaba equivocado, que precisamente esta ahí, mi meta, mi objetivo, mis anhelos están ahí, y comienza la lucha otra vez para tratar de obtener ese otro 'caramelo' que he visto, y que llena otra vez mi vida con una ilusión, una nueva meta a conseguir. Pero la magia siempre desaparece cuando lo consigo, en los casos que no lo consigo, esa es la razón de mi malestar, de mi 'desgracia', el no conseguirlo, porque así justifico mi insatisfacción, mi desgana de vivir, mi completa indiferencia ante los acontecimientos. Saber esto y no saber que hacer para solucionarlo es desesperante. Cuando hace años tuve la lucidez de intentar suicidarme, ese creo que fue el momento más pleno y consciente de toda mi vida, el más real y más consecuente. Nada hay en esta vida que pueda llenar este enorme e insaciable agujero negro que anida en mi interior, todo se lo traga y desaparece como si nunca hubiese existido. El Vacío es mi sino y mi sentido de vivir, porque cuando eres joven te engañan con falsas promesas e ilusiones sobre la vida, y nada de ello es cierto. La vida no es gran cosa, además de no darte nada, es simplemente una estancia en una gran mansión, la cual no es más que la estancia contigua ni menos que la otra ni la de más allá,... todas son igual de insignificantes y carentes de sentido, porque no existe ese sentido que nos empeñamos en imprimir a todos nuestros actos y a todas nuestras decisiones. Nada de lo que hagamos va a cambiar nada realmente, nada,... porque nada somos y en nada nos convertiremos, por los siglos de los siglos hasta el final de esta mierda de mundo.




La gente me produce asco, tengo asco hasta de mi mismo. Deseo una destrucción completa de todo lo humano, incluidos ellos e incluido yo, ya que no soy especial ni mejor que ellos. Soy una mierda más puesta en este mundo sin mi aprobación.
27 años son más que suficientes para poder soportar todo este absurdo que me rodea y que me invade, es suficiente para ver que todo lo que hacemos no servirá de nada, que ningún sentido tiene seguir sufriendo y siguiendo una rutina estúpida que no nos conduce a nada. Mierda de vida, mierda de sociedad, mierda de gente, mierda de sistema,... MIERDA, mi palabra favorita, sólo ella es capaz de describir sin esfuerzo mis pensamientos.
Madrugo por las mañanas y pienso con ironía: "¡Bien, otro día más sobre este planeta!. Levantémonos, vamos a producir la ración de basura de hoy.". Me levanto, no sin un gran esfuerzo de voluntad (la cual hay que reconocer es considerable, me pregunto de dónde sale), toso (el tabaco dicen que mata, poco a poco). Salgo de casa, con ojos dormidos, mi mente todavía atontada, los cascos de mi discman en mis oídos (la música es lo único que soporto a esas horas, y casi es lo único que soportaría a cualquier hora). Me dirijo con paso raudo a la estación de tren, que me llevará a mi y al resto de las abejas obreras a esos campos de concentración mal llamados empresas. Cuando llego, mi cara (ya con un rictus de amarga tristeza) empeora hacia un enfado que no puedo dirigir contra nadie, porque nadie es culpable y al mismo tiempo, lo somos todos y hacia todos lo dirijo. No hablo, apenas saludo (¿Buenos días?, no para mi, desde luego), me siento en mi cubiculo, en mi celda. Aun encima, es verano, hace calor, y el aire acondicionado crea una malsana atmósfera artificial que perjudica más mis pulmones, ya jodidos por el tabaco.
Al cabo de un rato, llega el jefe, ese temible bastardo, que se cree algo, que se cree que nos posee, cuando realmente no tiene nada, realmente no es nada, nada más que otra mierda con patas que camina con una falsa seguridad en si mismo. Me río de su seguridad, me río de su ficticio poder, porque cuando la muerte llega (y afortunadamente siempre llega) nada de lo que tiene o cree tener, le va a impedir pudrirse bajo tierra entre los gusanos.
Tomo un café, el estimulante que necesito para mantenerme despierto y no caer en el sopor del aburrimiento, y en un sueño que trata de apoderarse de mi ser. Un sueño que realmente seria bienvenido, y mejor aprovechado que estas horas muertas de mi vida que paso aquí encerrado entre estas cuatro paredes mugrientas.
¿Por qué no dejarlo?, ¿por qué no escapar?... sí, suena bien... ser libre, romper las cadenas... pero es irreal. Si sigo vivo (cosa que continuamente me planteo) y tal como están las cosas, necesito dinero para comer, pagar una vivienda, ... Y no me pienso convertir en un vagabundo, porque ya es bastante dura y asquerosa la vida como para aún encima tener que depender de la caridad humana. No, para ser libre realmente, sólo hay una solución: la muerte. Aunque no haya nada después de ella, cosa que no sé, es la única salida para ser libre, realmente libre. Se terminan entonces las ataduras, trabajar, pagar, llorar, sufrir, reír, soñar, enfermar, el miedo, el amor, el odio, ... Sólo necesito el método adecuado y podré hacerlo, porque hasta ahora, he fallado.

Pensándolo bien, no me hubiese importado nacer si en lugar de ser humano, con su supuesta inteligencia, hubiese nacido animal. Cualquiera, me es indiferente: desde una mosca hasta un elefante... Pero al fin y al cabo, animal, ser que sólo existe y vive, no se preocupa de mañana, no se preocupa de lo que hizo ayer. Para él solo existe el ahora, un ahora que cambia según sus necesidades: comer, procrear, descansar, ... Así debiera ser nuestra vida: vivir el ahora, sin preocuparnos de nada más, sin tantas normas, sin tantas complicaciones, sin tantas fronteras, ... Ser, existir, vivir, nada más... No deberíamos pensar tanto, los que lo hacemos y los que no, felices ellos porque de ellos es el reino de la felicidad y la ignorancia (eternas compañeras).

Soy egoísta, dicen, y lo reconozco. Sólo pienso en mi, no hago más que quejarme, sin pensar en que los demás también sufren... Pues si también sufren y quieren acabar con esa agonía, ¿qué coño estamos haciendo?, ¿por qué no nos ponemos de acuerdo y lo cambiamos todo? o mejor, ¿por qué no nos ponemos de acuerdo y nos autoexterminamos todos?.

¿Por qué me siento tan asfixiado? ¿por qué tan aislado? ¿por qué tan agobiado?... ¿Quién me ha enseñado a ser así?, ¿por qué he elegido este camino de penuria y sufrimiento?... ¿Alguien me podría ayudar?, sólo me gustaría ser idiota para no preocuparme tanto, o ser tan inteligente que desde mi superioridad no me afecte tampoco la mediocridad y la rutina. ¿Alguien tiene la sabiduría? ¿alguien la llave de la tranquilidad?... No quiero morir, pero tampoco vivir así, y no existe punto intermedio, o mejor dicho, sí que existe y en él estoy: malviviendo, una especie de zombi, un muerto en vida que no se decide por ninguno de los dos caminos porque no es capaz de llegar a ninguno de ellos. Soy así desde muy joven, casi podría decir que desde que tengo uso de razón. Es demasiado tiempo para sufrir. Siempre pensaba que cuando creciese, la madurez y la experiencia me ayudarían y vería la luz al final del túnel, incluso (era demasiado romántico todavía) que el amor podría sacarme de la oscuridad, pero el tiempo pasó, los amores también,... y nada me ha ayudado, nada ni nadie, porque he llegado a la conclusión de que si hay salida (cosa que ya dudo) debería estar dentro de mi y que si no la he encontrado es porque esa salida no existe.




Cioran

Visita a Wei Pa

En la vida es muy poco frecuente
que dos amigos vuelvan a encontrarse
como le sucedea los luceros
de la mañana y de la tarde.
Esta noche es distinta
a las demás noches,
pues hemos podido sentarnos juntos
bajo la luz de un mismo candil.
Juventud y lozanía,
¿cuánto tiempo más nos queda?
Mi barba y mis cabellos
se vuelven grises.
Recuerdo a los viejos amigos y
me doy cuenta de que más de la mitad
ya están entre los fantansmas,
pero ahora, al verte,
mi corazón se estremece de alegría.
¿Cómo podía saber que pasarían
veinte años antes de volver a verte?
La última vez no estabas casado.
No te imaginaba con una esposa e hijos.
Cermoniosamente y con respeto, alegres
saludan al viejo amigo de su padre,
y me preguntan de dónde vengo.
Enseguida ordenaste a tus chiquillos
que trajeran el vino y lo colocaran a mano.
Las cebollas relucen con el rocío del atardecer
y se las cocina frescas
con semillas amarillas.
Mi anfitrión me cuenta lo difícil que se ha vuelto hoy
celebrar un encuentro y
me pide disculpas una y otra vez.
Después de diez copas
aun no estamos borrachos,
sólo nos hemos puesto sentimentales
por nuestros recuerdos.
Mañana otra vez
nos separarán las colinas y
las cosas del mundo
harán que nos olvidemos el uno del otro...


Tu Fu

Ode to the West Wind

P. B. Shelley



O Wild West Wind, thou breath of Autumn's being—
Thou from whose unseen presence the leaves dead
Are driven, like ghosts from an enchanter fleeing,
Yellow, and black, and pale, and hectic red,
Pestilence-stricken multitudes!—O thou
Who chariotest to their dark wintry bed
The wingèd seeds, where they lie cold and low,
Each like a corpse within its grave, until
Thine azure sister of the Spring shall blow
Her clarion o'er the dreaming earth, and fill
(Driving sweet buds like flocks to feed in air)
With living hues and odours plain and hill—
Wild Spirit, which art moving everywhere—
Destroyer and Preserver—hear, O hear!

Thou on whose stream, 'mid the steep sky's commotion,
Loose clouds like earth's decaying leaves are shed,
Shook from the tangled boughs of Heaven and Ocean,
Angels of rain and lightning! they are spread
On the blue surface of thine airy surge,
Like the bright hair uplifted from the head 20
Of some fierce Mænad, ev'n from the dim verge
Of the horizon to the zenith's height—
The locks of the approaching storm. Thou dirge
Of the dying year, to which this closing night
Will be the dome of a vast sepulchre,
Vaulted with all thy congregated might
Of vapours, from whose solid atmosphere
Black rain, and fire, and hail will burst:—O hear!

Thou who didst waken from his summer-dreams
The blue Mediterranean, where he lay, Lull'd by the coil of his crystalline streams,
Beside a pumice isle in Baiæ's bay,
And saw in sleep old palaces and towers
Quivering within the wave's intenser day,
All overgrown with azure moss, and flowers So sweet, the sense faints picturing them! Thou
For whose path the Atlantic's level powers
Cleave themselves into chasms, while far below
The sea-blooms and the oozy woods which wear
The sapless foliage of the ocean, know
Thy voice, and suddenly grow gray with fear
And tremble and despoil themselves:—O hear!

If I were a dead leaf thou mightest bear;
If I were a swift cloud to fly with thee;
A wave to pant beneath thy power, and share The impulse of thy strength, only less free
Than thou, O uncontrollable!—if even
I were as in my boyhood, and could be
The comrade of thy wanderings over heaven,
As then, when to outstrip thy skiey speed
Scarce seem'd a vision,—I would ne'er have striven
As thus with thee in prayer in my sore need.
O lift me as a wave, a leaf, a cloud!
I fall upon the thorns of life! I bleed!
A heavy weight of hours has chain'd and bow'd
One too like thee—tameless, and swift, and proud.

Make me thy lyre, ev'n as the forest is:
What if my leaves are falling like its own!
The tumult of thy mighty harmonies
Will take from both a deep autumnal tone,
Sweet though in sadness. Be thou, Spirit fierce,
My spirit! be thou me, impetuous one!
Drive my dead thoughts over the universe,
Like wither'd leaves, to quicken a new birth;
And, by the incantation of this verse,
Scatter, as from an unextinguish'd hearth
Ashes and sparks, my words among mankind!
Be through my lips to unawaken'd earth
The trumpet of a prophecy! O Wind,
If Winter comes, can Spring be far behind?

Shelley

segunda-feira, junho 12, 2006

Si el tiempo se detiene ahora

Si el tiempo se detiene ahora
es porque la actividad se revela confusión
deslizamiento
hacia zonas donde reina la cacofonía
la distracción de lo esencial: lo que somos y lo que queremos ser y hacer
quizás nada
pero la vuelta a la actividad se produce inevitablemente
terca, la realidad acude a distraernos de lo esencial:
lo que somos y lo queremos ser y hacer
la ventaja: esa hiperactividad absurda nos evita generar ansiedad
la que provoca ese borroso cuadro llamado futuro
esa incógnita
de si llegará
la enfermedad
o la pobreza
o la desgracia familiar
o la patética vejez.

Daniel Fedele

domingo, junho 11, 2006

Auguries of Innocence

To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower,
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour.

William Blake

sábado, junho 10, 2006

Opúsculos

Dez vezes que tenhamos lido o Dante, ao chegarmos á descripção da torre
de Ugolino erriçam-se-nos sempre os cabellos. Mas Lorvão é uma torre de
Ugolino. A differença está em que no carcere da _Divina Comedia_ havia
um homem forte de alma e de corpo, affeito á dor e ás scenas de dôr:
aqui ha dezoito ou vinte mulheres na idade decadente, que se affizeram
na juventude aos commodos, aos regalos, e até ao luxo compativel com as
condições da vida monastica. Lá o _fiero pasto_ acabava, e depois
morria-se rapido. Aqui não: aqui ha justamente quanto basta para
prolongar por mezes e por annos o martyrio. Dir-se-hia que existe uma
providencia infernal para que não falte ás freiras de Lorvão o
restrictamente indispensavel para, lento e lento, se lhes irem os
membros mirrando n'um longo expirar, debeis e senis.

Imagine, meu amigo, uma noite de inverno, no fundo desta especie de poço
perdido no meio da turba de montes que o rodeiam: imagine dezoito ou
vinte mulheres idosas, mettidas entre quatro paredes humidas e
regeladas, sem agasalho, sem lume para se aquecerem, sem pão para se
alimentarem, sem energia na alma, e sem forças no corpo, comparando o
passado, sentindo o presente e antevendo o futuro. Imagine o vento que
ruge, a chuva ou a neve fustigando as poucas vidraças que ainda restam
no edificio; imagine essas orgias tempestuosas da natureza que passam
por cima das lagrymas silenciosas das pobres cistercienses, e as horas
eternas que batem na torre. Imagine tudo isto, e sentirá accender-se-lhe
no animo uma indignação reconcentrada e inflexivel.

Ha poucos dias passou-se em Lorvão uma scena tremenda. N'um accesso de
desesperação, parte destas desgraçadas queriam tumultuariamente romper a
clausura; queriam ir pedir pão pelas cercanias. Custou muito contê-las.
Tinha-se apoderado dellas uma grande ambição; aspiravam á felicidade do
mendigo, que póde appellar para a compaixão humana; que póde fazer-se
escutar de porta em porta. Era uma vantagem enorme que obtinham. A sua
voz é demasiado fraca, e os muros de Lorvão demasiado espessos. Gemidos,
brados, prantos, tudo é devorado por esse tumulo de vivos. Ao menos,
surgiam como Lazaro da sua sepultura.

Gemidos, brados, prantos, nada disso chega aos ouvidos dos homens que
exercem o poder nesta terra; nada disso os incommoda. Entretanto, se eu
falasse com elles, dar-lhes-hia um conselho. Talvez o ouvissem, porque a
minha voz é um pouco mais forte que a das velhas freiras. Era o de
enviarem aqui sessenta soldados, formarem as monjas de Lorvão em linha
no adro da igreja e mandarem-lhes dar três descargas cerradas.
Desapparecia, a troco de poucos arrateis de polvora, um grande
escandalo, e resolvia-se affirmativamente um problema a que nunca achei
senão soluções negativas, o da utilidade da força armada neste paiz.

Sim, isto era util, porque era atroz; porque era uma festa de cannibaes;
porque se gravava na mente dos homens; porque ficava na historia, como
um padrão maldicto, para instaurar no futuro o processo desta geração.
Mas não era infame, não era covarde; não era o assassinio lento,
obscuro, atraiçoado, feito com a mordaça na boca das victimas. Corria o
sangue durante alguns minutos: não corria o suor da agonia durante
annos. Era uma scena de delirio revolucionario; mas não era um capitulo
inedito para ajunctar aos annaes tenebrosos do sancto officio.

Alexandre Herculano

Dissertação sobre as Paixões da Alma


(...)É bem comum em Portugal a paixão dos zelos e não necessitava expô-la diante de VM se não quisesse mostrar que é uma enfermidade e que depende da brandura e da fraqueza do ânimo, e que necessita uma cura como todas as mais paixões que dependem da fraqueza e lassidão do sistema nervoso.

Nesta paixão há dous tempos aonde os efeitos são diferentes: o 1º é quando o amante vê que o objecto amado é possuído por outro e que ele fica destruído. Esta paixão pode causar a morte e todos os males do cérebro.
Referem as Histórias de Espanha que a mãe de Carlos V vendo seu marido, Filipe I, dar sinais não equívocos do seu amor a uma dama da sua corte na presença daquela Rainha que ficou tão sentida e tão atónita que perdera o juízo por toda a vida, de que lhe ficou o nome Joana, la Loca.(...)

Ribeiro Sanches

sexta-feira, junho 09, 2006

O Pássaro da Alma

No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que existe.
E não só sabem que existe,
como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma, lá bem no centro,
pousado numa pata, está um pássaro.
E o nome desse pássaro é o Pássaro da Alma.
E ele sente tudo o que nós sentimos :

Quando alguém nos magoa,
o pássaro da alma agita-se para lá e para cá
em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.
Quando alguém nos ama,
o pássaro da alma dá pulinhos de contente,
para trás e para a frente, vai e vem.
Quando alguém nos chama,
o pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz
a fim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco,
o pássaro da alma recolhe-se
dentro de si ,tristonho e silencioso.
E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma
que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,
começa a crescer, crescer,
até encher quase todo o espaço dentro de nós,
tão bom para ele é o abraço.

Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
mas todos sabem que ela existe.
E ainda nunca, nunca veio ao mundo alguém
que não tivesse alma.
Porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos
e não nos larga
- Nem uma só vez –
até ao fim da vida.
Como o ar que o homem respira
desde a hora em que nasce até à hora em que morre.
Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.
Ah, isso é mesmo muito fácil :
É feito de gavetas e mais gavetas.
Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,
pois cada uma delas tem uma chave para ela só!
E o pássaro da alma
é o único capaz de abrir as gavetas dele.
Como ?
Pois isso também é muito simples :
Com a segunda pata.

O pássaro da alma está pousado numa pata,
e com a outra – que em descanso está dobrada sob a barriga –
roda a chave da gaveta que quer abrir,
puxa pelo puxador, e tudo o que está dentro dela
sai em liberdade para dentro do corpo.

E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,
o pássaro da alma tem imensas gavetas.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da inveja e a gaveta da esperança.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.
E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.
A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.
E a gaveta dos segredos mais escondidos,
uma gaveta que quase nunca abrimos.
E há mais gavetas.
Vocês podem juntar todas as que quiserem.

Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro
as chaves a rodar e as gavetas a abrir.
E outras vezes é o pássaro quem decide.
Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir
a gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,
Abre-lhe a gaveta da fala,
E ela desata a falar, a falar sem querer.
Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente
- e em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego
que faz com que ela se enerve.
E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.
E que estrague justamente quando mais quer ajudar.
Porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado
e às vezes dá-lhe trabalhos...

Agora já compreendemos que cada homem
é diferente do seu semelhante
por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.
O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,
e a alegria jorra para dentro do corpo e o dono dele fica feliz.
E quando o pássaro lhe abre a gaveta da raiva,
a raiva escorre de dentro dela e domina-o totalmente.
Até que o pássaro volte a fechar a gaveta
ele não pára de se zangar.
E quando o pássaro está de mau humor
abre gavetas que dão mal-estar.
E quando o pássaro está de bom humor
escolhe gavetas que fazem bem.

E o mais importante – é escutar logo o pássaro.
Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.
É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.
Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas dentro de nós.

Há quem o ouça muitas vezes.
Há quem o ouça raras vezes,
E há quem o ouça
Uma única vez na vida.

Por isso vale a pena
talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,
escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,
no fundo, lá bem no fundo do corpo.
Michal Snunit

segunda-feira, junho 05, 2006

The tyger

Tyger, tyger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?

Tyger, tyger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

William Blake

domingo, junho 04, 2006

Mi noche triste

Percanta que me amuraste
en lo mejor de mi vida
dejandome el alma herida
y splin en el corazon,
sabiendo que te queria,
que vos eras mi alegria
y mi sueño abrasador...
Para mi ya no hay consuelo
y por eso me encurdelo
pa' olvidarme de tu amor.
Cuando voy a mi cotorro
lo veo desarreglado,
todo triste, abandonado,
me dan ganas de llorar,
y me paso largo rato
campaneando tu retrato
pa' poderme consolar.

De noche cuando me acuesto
no puedo cerrar la puerta
porque dejandola abierta
me hago ilusion que volves.
Siempre traigo bizcochitos
pa' tomar con matecito
como cuando estabas vos...
Y si vieras la catrera
como se pone cabrera
cuando no nos ve a los dos.

Ya no hay en el bulin
aquellos lindos frasquitos
adornados con moñitos
todos de un mismo color,
y el espejo esta empañado,
si parece que ha llorado
por la ausencia de tu amor.

La guitarra en el ropero
todavia esta colgada;
nadie en ella canta nada
ni hace sus cuerdas vibrar...
Y la lampara del cuarto
tambien tu ausencia ha sentido
porque su luz no ha querido
mi noche triste alumbrar.

Pascual Contursi

Canto mágico para curar la locura (Fragmento)

El curandero en un extremo del piso de plata, en un asiento de oro, en un asiento pequeño, está sentado mirando el lugar.

El viento del norte se hace más fuerte; el curandero está mirando el lugar.

El viento del norte y el viento del sur están peleando; el curandero está mirando el lugar; él es el curandero.

Las olas del mar se están levantando con espuma; el curandero está mirando el lugar; él es el curandero.

Los olas del mar casi lo alcanzan; el curandero está mirando el lugar; él es el curandero.

Las olas del mar casi se han calmado; el curandero está mirando el lugar; él es el curandero.

Las olas del mar casi se han alisado; el curandero está mirando el lugar; él es el curandero.

La saliva de las olas del mar está salpicando; el curandero está mirando el lugar.

La saliva de las olas del mar está formando hilos; el curandero está mirando el lugar.

Las olas del mar están resplandeciendo con blancura, como la de la garza, las olas del mar están blanqueando; el curandero está mirando el lugar.

Los cocoteros del mar se están doblando por el viento; el curandero está mirando el lugar.

Las manzanas de los cocos del mar están brillando en el viento; el curandero está mirando el lugar.

Las manzanas de los cocos del mar están luciendo en el viento; el curandero está mirando el lugar.

Las puntas de los cocos están resonando por el viento; el curandero está mirando el lugar.

Las hojas secas de los cocoteros se están moviendo por el viento; el curandero está mirando el lugar.

El sol le está oscureciendo la tierra, el curandero va a acostarse en la hamaca, las sogas de las hamacan están rechinando...

Pueblo Cunas. Panamá

sexta-feira, junho 02, 2006

Balada del ausente

Entonces no me des un motivo por favor
No le des conciencia a la nostalgia,
La desesperación y el juego.
Pensarte y no verte
Sufrir en ti y no alzar mi grito
Rumiar a solas, gracias a ti, por mi culpa,
En lo único que puede ser
Enteramente pensado
Llamar sin voz porque Dios dispuso
Que si Él tiene compromisos
Si Dios mismo le impide contestar
Con dos dedos el saludo
Cotidiano, nocturno, inevitable
Es necesario aceptar la soledad,
Confortarse hermanado
Con el olor a perro, en esos días húmedos del sur,
En cualquier regreso
En cualquier hora cambiable del crepúsculo
Tu silencio
Y el paso indiferente de Dios que no ve ni saluda
Que no responde al sombrero enlutado
Golpeando las rodillas
Que teme a Dios y se preocupa
Por lo que opine, condene, rezongue, imponga.
No me des conciencia, grito, necesidad ni orden.
Estoy desnudo y lejos, lo que me dejaron
Giro hacia el mundo y su secreto de musgo,
Hacia la claridad dolorosa del mundo,
Desnudo, sólo, desarmado
bamboleo mi cuerpo enmagrecido
Tropiezo y avanzo
Me acerco tal vez a una frontera
A un odio inútil, a su creciente miseria
Y tampoco es consuelo
Esa dulce ilusión de paz y de combate
Porque la lejanía
No es ya, se disuelve en la espera
Graciosa, incomprensible, de ayudarme
A vivir y esperar.
Ningún otro país y para siempre.
Mi pie izquierdo en la barra de bronce
Fundido con ella.
El mozo que comprende, ayuda a esperar, cree lo que ignora.
Se aceptan todas las apuestas:
Eternidad, infierno, aventura, estupidez
Pero soy mayor
Ya ni siquiera creo,
En romper espejos
En la noche
Y lamerme la sangre de los dedos
Como si la hubiera traído desde allí
Como si la salobre mentira se espesara
Como si la sangre, pequeño dolor filoso,
Me aproximara a lo que resta vivo, blando y ágil.
Muerto por la distancia y el tiempo
Y yo la, lo pierdo, doy mi vida,
A cambio de vejeces y ambiciones ajenas
Cada día más antiguas, suciamente deseosas y extrañas.
Volver y no lo haré, dejar y no puedo.
Apoyar el zapato en el barrote de bronce
Y esperar sin prisa su vejez, su ajenidad, su diminuto no ser.
La paz y después, dichosamente, en seguida, nada.
Ahí estaré. El tiempo no tocará mi pelo, no inventará arrugas, no me inflará las mejillas
Ahí estaré esperando una cita imposible, un encuentro que no se cumplirá.

Juan Carlos Onetti
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