sexta-feira, maio 19, 2006

O Tempo, o mar e o melro

Hoje fomos à esplanada da praia no Guincho
ouvir a respiração do mar feita de sete ondas e seis silêncios
e enquanto isso falámos de coisas prosaicas
como o amor e outras que o são menos
como a vida e a morte e o tempo que entre elas decorre
no espírito na energia nas hipotéticas vidas passadas
em que tu acreditas e eu não
mas podemos sempre reconsiderar
reencarnações sucessivas na senda da perfeição
predicção do futuro que se calhar afinal não é futuro
e aqui alonguei-me numa explicação
que metia modelos matemáticos
e tu sorriste
porque de modelos matemáticos nada percebes
mas em contrapartida sabes muito do amor e dos afectos
e acima de tudo sabes muito da amizade
chegámos à conclusão que o Tempo não é uma linha recta
como sempre nos fizeram crer
o Tempo não cabe nos séculos tão pouco nos anos nos meses nos dias
o Tempo não é linear
partimos de uma premissa errada acerca do Tempo
e construímos todo o nosso pensamento as nossas expectativas
a partir de uma premissa errada
o tempo não é linear
sou céptica e fiz perguntas que te deixaram um pouco irritada
apontaste a incoerência do meu cepticismo
uma vez que tinha acabado de estar duas horas com N
o meu encontro mensal com ela que mais não é que a minha paz
No título está o Tempo, o mar e o melro
vou ter por isso que te falar do melro
não te falei nele no Guincho porque não achei oportuno
mas quando me levantei para fotografar o mar
vi um melro
e quando vejo um melro sei quem é
porque ele tinha uma predilecção especial por melros
eram os seus pássaros preferidos desde criança
contava-nos histórias e mais histórias
algumas seriam inventadas mas mesmo assim verdadeiras
sobre os melros da sua infância
por isso desde que morreu quando vejo um melro
sei que é ele
ele hoje esteve ali e ouviu-nos falar
de coisas que não sabemos ao certo o que são

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