quarta-feira, novembro 08, 2006

O Mundo à Minha Procura I

Voltar ao Campo Alegre foi para mim qualquer coisa de enorme na vida, mais importante do que ir à Lua, ou andar em órbita à volta da Terra.
O átrio do Campo Alegre é célebre, coisa de embasbacar. É um perfeito quadrado erguendo-se livre até vinte metros ou mais, tendo do primeiro andar uma enorme varanda quadrada que se debruça sobre o átrio e que serve todos os quartos na parte virada à luz. Lá no cimo, no cocuruto, estava uma forma de clarabóia, com varandim circular, de onde nós no Carnaval atirávamos serpentinas à cabeça de quem obrigatoriamente passava lá por baixo. No entanto, a grandeza do átrio mostrava-se, além da sua maravilhosa perspectiva de simetria, no andar nobre da casa que era o andar da entrada, ultrapassada a curta escadaria exterior.
O átrio do Campo Alegre apresentava o mercado da casa, o lugar de reunião, a ágora grega onde as pessoas vinham falar e discutiam os assuntos mais variados, onde cada um que saísse dos seus quartos estava imediatamente debaixo da alçada visual de um estranho ou de um desconhecido. Era a praça pública íntima dos familiares, lugar de suspiros ao chegar a casa e onde se dizia adeus pelo eco daqueles trinta metros acima que fazia ressoar a voz humana com um sentido correcto de simetria. As condições acústicas surgiam musicais. O mínimo som denunciava a presença de alguém, a mais íntima declaração amorosa estendia-se em pequenos timbres pelas colunas que suportavam a álea de quartos da casa.
Ruben A.
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