domingo, dezembro 31, 2006

Lundu da marrequinha

Os olhos namoradores
Da engraçada iaiásinha,
Logo me fazem lembrar
Sua bella marrequinha.
Iaiá, não teime,
Sólte a marreca
Senão eu morro,
Leva-me a breca.
Se dansando á Brasileira,
Quebra o corpo a iaiásinha,

Com ella brinca pulando
Sua bella marrequinha

Quem a vê terna e mimosa,
Pequenina e redondinha,
Não diz que conserva prêsa
Sua bella marrequinha.

Nas margens da Caqueirada
Não há só bagre e tainha:
Alli foi que ella creou
Sua bella marrequinha.

Tanto tempo sem beber...
Tão jururú... coitadinha!..
Quasi que morre de sêde
Sua bella marrequinha.

Paula Brito


"Marrequinha "era um tipo de laço dado no vestido das moças do séc. XIX, usado atrás
das nádegas.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Há-de flutuar uma cidade

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

Al Berto

quinta-feira, dezembro 28, 2006

L' Affare

A nessun prezzo
poterono comprare
la sua vita.
Decisero,
di venderlo
alla morte,
gratuitamente

Ali Abdollahi

M

Os teus olhos não vêem.
Mas creio cada vez mais
que muito pouco existe
naquilo que não podes ver.
E sentes o que não consigo
apesar de ver
e de tanto procurar
e de tanto querer sentir.

i

terça-feira, dezembro 12, 2006

O meu animal preferido


O meu animal preferido é o pepino -do-mar.
Os pepinos-do-mar, quando perseguidos, defendem-se, desfazendo-se na cara do agressor.
Assim mesmo: fazem explodir as suas vísceras, lançando-as, todas pegajosas, e supostamente mal cheirosas, sobre os perseguidores que fogem horrorizados.
Em seguida, o pepino-do-mar ocupa-se em regenerar. Vinte dias depois está de novo fresco que nem uma alface, como se nada tivesse acontecido.
Aprendi isto há muito pouco tempo e fiquei bastante impressionada.
Já sabia que as estrelas-do-mar e as lagartixas conseguem regenerar as extremidades quando as perdem.
Mas o caso do pepino-do-mar é muito mais profundo e subtil. Ninguém lhe arranca nada: ele é que decide explodir, auto destrói-se para não ser destruído, "antes eu que eles" deve ele pensar.
Será que tem consciência (seja lá como for a consciência de um pepino-do-mar) da sua capacidade de regeneração? Deve ter, claro. Se bem que fosse muito mais poético se não tivesse.
Que pensará o pepino-do-mar durante os vinte dias de recobro? Pensará? Sofrerá? Vou ter que ler sobre o sistema nervoso dos pepinos-do-mar.
O pior é que tenho uma série de tarefas para fazer durante estes dias, depois vou encher os sentidos de coisas que nunca vi antes e, quando voltar a poisar, muito provavelmente já não me lembrarei de que deveria ler sobre o sistema nervoso do pepino-do-mar.
Certo é que nunca mais os comerei, crus e finamente fatiados, no restaurante japonês. Ainda que continuem a apregoar as suas potencialidades afrodisíacas.
Há qualquer coisa agora que...me impede.
Isto porque não há nada como apenas gostar muito. Quando passo a admirar profundamente e a adorar...já não consigo comer.

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Sou só mais uma a escrever sobre o amor


Penso, por vezes, que afinal o amor pode não ser grande coisa. Nasce do medo da morte, cria dependências, tiraniza a vontade, gera meandros em trilhos que julgávamos indeléveis.
O amor pode não ser grande coisa: à sua volta, como satélites, gravitam emoções negativas e sentimentos menos nobres. São desesperos, ciúmes, inseguranças e mostram-nos como somos frágeis.
E quando termina é um vazio, uma montanha oca, um mar chão. Acaba-se a vida.
É, por isso, cruel e tirano, tem tiques de ditador e diverte-se a digladiar o tempo.
Às vezes unem-se, os dois, contra nós. Esmagam-nos, torturam-nos, transformam-nos em fantoches.
E nós, submissos, continuamos a procurá-lo, a cantá-lo, a querê-lo.
Amamo-lo e perdoamos "o mal que faz pelo bem que sabe". Somos um paradoxo e o amor, outro.
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País normal



Imagino-me , por vezes, a viver num país normal e em como seriam poucas as oportunidades de viver aventuras estonteantes em repartições públicas, lojas de cidadão, eu sei cá!
Deve ser muito enfadonho viver num país de gente competente, governos fixes e instituições que funcionam.
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De volta ao Minho



Quando íamos para o Minho era Verão, estávamos de férias e perdíamos a noção do Tempo. Nunca sabíamos o dia da semana, excepto aos domingos.
O muro de pedras e musgo do nosso jardim confinava com o muro do Convento de Paderne. Por isso era fácil, mal ouvíamos o sino tocar, saltarmos da cama, lavarmo-nos, vestirmo-nos e apresentarmo-nos a minha avó que já nos aguardava, impaciente, se bem que não o demonstrasse verbalmente.
Mas nós adivinhávamo-lo no seu olhar azul -glaciar que nos fazia gelar, não de medo, mas de respeito e um pouco de vergonha.
E lá íamos, passo estugado, em direcção à igreja do Convento.
Meu avô também era muito devoto mas não ia à missa. Não precisava, dizia ele, pois só fazia o bem e rezava todos os dias as laudes e as vésperas, genuflectido no oratório do seu quarto.
Era um homem muito grande e forte, ao contrário de minha avó, que era pequenina e magra mas que era quem comandava as tropas.
Meu avô vingava-se à hora das refeições, contando imensas histórias engraçadas, que nos faziam rir a bandeiras despregadas, para grande desespero de minha avó que se sentia impotente para impor a ordem que tanto prezava e que passaria pelo nosso silêncio à mesa.
A infantocracia foi algo que só surgiu mais tarde, já eu era quase adulta. Na minha infância, as crianças não eram as donas do mundo, não eram aduladas como são hoje e a Terra não girava à volta dos seus umbigos.
À hora das refeições esperava-se de nós que mastigássemos, engolíssemos e pouco mais. As conversas estavam reservadas aos adultos.
Pode-se assim facilmente imaginar como meu avô representava para nós um herói anti -convenções que nos libertava, divertia e nos permitia ousar.
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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Troca de palavras (com sentido postadas sem o consentimento do autor)


(...)e lembra-te, que a vida tem sempre algo de bom, mesmo nas pequenas coisas.
Por vezes acontecem coisas . Não sabemos bem porquê, mas depois revelam-se(...)
JP

Torno al Sud

Come si torna all’amore
Torno da te
Con il mio desiderio, con la mia paura
Porto il Sud come destino del cuore
Sono del Sud

sento il Sud
come il tuo corpo nell’intimità
ti amo Sud
ti amo.

F. Solanas/A. Piazzola

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Ariane

Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.

Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...

Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.

Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.

Miguel Torga

Polífonia aquática



(...)

Mendelsohn recorda as suas viagens para a Inglaterra e Escócia, compondo o Mar calmo e feliz viagem. Mas já antes Beethoven tinha escrito uma composição com o mesmo título.

Debussy imortaliza-se com a composição O Mar. Glazunov segue-o na esteira, escrevendo um poema sinfónico similar (Opus 28).

Prokofiev opta por escrever Nos mares polares. Chausson prefere juntar o amor e o mar, como que fundindo a imensidão de um no outro, escrevendo para isso, Poema do amor e do mar.

Sibelius, filho de um país mergulhado na água, vislumbra horizontes mais rasgados, escrevendo Oceânides. Mas em determinado momento extasia-se com o Cisne de Tuonela.

Smétana, nas areias de uma praia, sente-se arrebatado e a inspiração leva-o a escrever um esboço para um concerto, a que chamou Estudo de concerto à beira do mar.

Os oceanos não apenas esmagam pela grandiosidade, como também exaltam a fantasia.

Borodine imagina ora A bela sereia, ora A princesa do mar.

Dvorak descobre, deslizando sobre o abismo das águas, O duende aquático. Schubert escreve o Canto dos espíritos sobre a água. Estes, por vezes, habitam nalgum Castelo junto ao mar, como escreve Richard Strauss.

Smétana não vê sereias, nem princesas, nem tão pouco duendes ou espíritos. Apenas escuta a Canção do mar. Wagner imortaliza-se com a maldição de um navio, que se converteu em verdadeiro Navio fantasma.

Mas não é apenas a imensidão que inspira os músicos. Lençóis de água mais tranquilos também despertam a imaginação dos compositores.

Tchaikovsky opta pelo Lago dos Cisnes. Liszt pelo Lago de Wallenstadt; Galos escreve o Lago do Como; Fauré, deslumbrado pelos movimentos elegantes de um cisne, tradu-la, em O Cisne sobre a água. E como nas águas tranquilas do lago se espelhava a figura magestosa desta ave, Fauré junta a esta uma outra composição, Reflexos na água. O mesmo tema já tinha servido de inspiração a Debussy .

Para Schubert, tudo o que se relaciona com a água é motivo inspirador. Por isso, tanto canta O Rio, No mar, como escreve o que neles desliza: o rodopiar de A Truta e O Canto do Cisne.

As fontes, no seu borbotar permanente, não deixaram indiferentes os músicos.

Respighi escreve as Fontes de Roma ; Milhaud, compõe Fontaines et Sources; Liszt prefere sonhar À beira de uma fonte. Ravel traduz como ninguém as figuras caprichosas resultantes dos jactos de água, das cascatas e dos ribeiros nos Jogos de água. Liszt identifica esses mesmos jogos ao compor Jogos de água na Vila d’Este. Não menos expressivos são os Jactos de água de Debussy. Certamente estes terão mais encanto se acontecerem na Primavera. Por isso Rachmaninof compõe as Águas Primaveris.

Os rios e os ribeiros, com a sua musicalidade própria, cativaram um grande número de compositores, de um modo especial os românticos, que tinham em grande apreço o culto da natureza.

Para além das emoções junto de um ribeiro, que Beethoven pretende traduzir na 6ª Sinfonia , outros compositores porfiaram exprimir-se de modo idêntico: Chostakovich deixou para a posteridade o Regato luminoso e R. Strauss legou-nos Um passeio junto ao ribeiro (Wanderung neben dem Bache).

Os grandes rios da Europa tiveram também os seus compositores.

Para uma viagem no rio Tamisa, numa tarde de Outono, nada melhor que a Música aquática de Haendel, ainda distante do período romântico.

Manuel de Falla regista o Canto dos remadores do Volga.

Numa homenagem à sua Pátria, Smétana descreve a Moldávia, deixando-se deslizar nas águas do Moldova, desde a nascente até ao mar.

Mussorgsky e Prokofief cantam O Dniepre; este último fica extasiado com a grandiosidade do Encontro do Volga com o Don.

Bizet descreve O Reno e Chostakovitch marca um Encontro sobre o Elba.

Menos conhecido, mas não esquecido, é o rio Ulea, imortalizado por Sibelius, quando compôs O quebrar do gelo sobre o rio Ulea.

Alguns rios ficam no anonimato, mas percebe-se a referência. Chostakovitch não indica o nome do rio ao escrever o Rio Russo ou o Canto de um grande rio.

O mais idolatrado dos rios é, sem dúvida, o Danúbio. Transvasando as margens, encheu os salões nobres de Viena e os grandes espaços de dança do mundo. Ivanovici valsea ao som das Ondas do Danúbio. Johann Strauss, contemplando nas águas o reflexo do Céu, arrasta toda a cidade de Viena, e, com ela o mundo inteiro, a dançar O belo Danúbio Azul (valsa para orquestra).

Alguns compositores imaginaram-se vogando numa barcarola, embalados pelo cadenciar ritmado das ondas, ou competindo com algum gracioso cisne, através das águas límpidas e serenas. Traduziram essa mesma imaginação ao escreverem as Barcarolas, legando, deste modo, à posteridade páginas de rara beleza. A título de exemplo, basta citar alguns nomes como Mendelssohn, Chopin, Offenbach e Fauré.

A chuva influencia estados de alma propícios à imaginação criadora, pelos sentimentos que desperta: ora a melancolia e a solidão, ora o sonho e a saudade, ora a tristeza, o desconforto e a compaixão. Por isso, alguns compositores não escaparam à atracção deste fenómeno da natureza que, embora repetitivo, tem algo de sedutor.

Chausson deixa preceber o seu mundo interior ao compor a Chuva. Sibelius, por detrás de uma janela de sua casa, saboreia a cadência ritmada das Gotas de água. Brahms compõe a Canção da chuva. Chopin deixa-se arrastar pelo fascínio do gotejar das chuvas num beiral, ao escrever alguns dos seus Prelúdios (nº6 e nº 15). Stravinsky prefere sensações mais fortes, com o ímpeto das águas de um Dilúvio.

De tal modo a água é fonte da vida, que alguns compositores preferiram visioná-la numa perspectiva mais transcendente e mística. A água tornou-se para eles um símbolo de Vida Eterna.

Messiaen, que nunca negou a sua visão espiritualista do Universo, escreveu As Águas da Graça e A Festa das Belas Águas . Numa linha idêntica, Fauré escreve Água Viva.

Também a obra de alguns dos nossos compositores tem cantado este tema e, particularmente, os rios portugueses e o Mar: Filipe Pires e as suas Canções do mar, Jorge Peixinho com Música em água e mármore e sobretudo Fernando Lopes-Graça cuja História Trágico-Marítima (composta sobre o poema de igual nome do insigne escritor Miguel Torga) constitui obra relevante da música portuguesa contemporânea.


Maria do Amparo Carvas Monteiro

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Coisas que recordo, às vezes



Às vezes, quando estou mais triste, recordo a enorme nogueira da casa de meus avós. Num dos seus ramos, meu avô pendurou um baloiço para as netas.
Ainda não havia daqueles aparelhos de senhas que agora há em todo o lado e, por isso, era sempre um pouco complicado gerir a utilização do pedaço de tábua suspenso, por cordas, ao ramo mais forte da árvore.
Verão após Verão, baloiçava ali, ouvindo aquele ranger doce da árvore, vendo o tremeluzir da luz da tarde por entre as folhas.
Recordo-me de algumas coisas que pensava então: no que seria quando fosse grande, nos sapatos empoeirados do filho dos caseiros que tanta impressão me faziam, como era forte aquela árvore para aguentar assim o nosso peso, na boneca espanhola que, ainda antes de voltar para Lisboa, meu pai me iria comprar em Vigo.
Claro que também havia bonecas em Lisboa, mas não tinham, nem de longe nem de perto, o encanto das bonecas espanholas com os seus cabelos compridos, loiros e enormes olhos azuis, com pestanas e pálpebras que abriam e fechavam, até ao dia em que encravavam e assim ficavam, de olhar vítreo e escancarado, fixo em nós.
Recordo também a casa, a adega, os tanques de lavagem do linho, o rosmaninhal onde estavam as colmeias, o laranjal, o renque de hortenses azuis, os muros cobertos por rosas de Santa Teresinha, as latadas de onde pendiam cachos de uvas brancas, a mina de água, lugar húmido e frio, cheio de mistérios e com várias cobras de água residentes, o espigueiro alcandorado em quatro pilares de granito, com telhado vermelho e uma grande chave de ferro em cada porta, os passeios diários às termas do Peso, onde sob o olhar atento do meu avô, todos tínhamos que beber um copo de água férrea, o que era um sacrifício para a maioria e um prazer desmedido para mim. Ainda hoje, quando penso na água do Peso, sinto o seu sabor na boca. E tantas saudades! Não que desejasse voltar a viver aqueles momentos. Mas sinto-os tão vivos, tão próximos...apetecia-me tocar-lhes. Apetecia-me voltar a ver o mundo como o via então. Tudo tão grande, tudo tão bonito.
O mundo visto dali era montanhoso, cheio de brumas pela manhã.
Chuviscava todos os dias, o que o tornava verde. Mas também fazia sol, por isso as flores sorriam e as abelhas eram felizes. Naquele mundo havia um castelo que era a casa dos meus avós. E os donos do feudo éramos nós, reis e rainhas, príncipes e princesas baloiçantes no ramo da nogueira, comedores de grandes fatias de broa de milho barradas com mel escuro e de maçãs e nozes do Outono anterior, conservadas intactas e sãs, no escuro fresco do sótão.
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domingo, dezembro 03, 2006

...

(...) Ah, é duro para mim reconciliar-me com isso tudo. Talvez por isso eu seja uma mulher — assim posso viver com mais segurança que os homens que conheci e invejei, ter filhos e instilar neles o desejo intenso de aprender e amar a vida que eu jamais chegarei a sentir plenamente, pois não há tempo, pois não há mais tempo, em vez disso há o medo súbito e desesperado, o relógio que bate e a neve que cai de repente demais após o Verão.
Certo, sou dramática e meio cínica, indolente e meio sentimental. Mas nos anos fáceis poderei amadurecer e descobrir o meu caminho. Agora estou a viver uma situação crítica.
Estamos todos na beira do precipício, isto exige muito vigor, muita energia, seguir pela borda, olhar para baixo, ver a escuridão profunda sem ser capaz de identificar através da névoa amarelada e fétida o que jaz sob o lodo, na lama que escorre cheia de vómito; e assim sigo em frente, imersa nos meus pensamentos, escrevendo muito, tentando achar o centro, um significado para mim.
Sylvia Plath
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