O meu animal preferido
O meu animal preferido é o pepino -do-mar.
Os pepinos-do-mar, quando perseguidos, defendem-se, desfazendo-se na cara do agressor.
Assim mesmo: fazem explodir as suas vísceras, lançando-as, todas pegajosas, e supostamente mal cheirosas, sobre os perseguidores que fogem horrorizados.
Em seguida, o pepino-do-mar ocupa-se em regenerar. Vinte dias depois está de novo fresco que nem uma alface, como se nada tivesse acontecido.
Aprendi isto há muito pouco tempo e fiquei bastante impressionada.
Já sabia que as estrelas-do-mar e as lagartixas conseguem regenerar as extremidades quando as perdem.
Mas o caso do pepino-do-mar é muito mais profundo e subtil. Ninguém lhe arranca nada: ele é que decide explodir, auto destrói-se para não ser destruído, "antes eu que eles" deve ele pensar.
Será que tem consciência (seja lá como for a consciência de um pepino-do-mar) da sua capacidade de regeneração? Deve ter, claro. Se bem que fosse muito mais poético se não tivesse.
Que pensará o pepino-do-mar durante os vinte dias de recobro? Pensará? Sofrerá? Vou ter que ler sobre o sistema nervoso dos pepinos-do-mar.
O pior é que tenho uma série de tarefas para fazer durante estes dias, depois vou encher os sentidos de coisas que nunca vi antes e, quando voltar a poisar, muito provavelmente já não me lembrarei de que deveria ler sobre o sistema nervoso do pepino-do-mar.
Certo é que nunca mais os comerei, crus e finamente fatiados, no restaurante japonês. Ainda que continuem a apregoar as suas potencialidades afrodisíacas.
Há qualquer coisa agora que...me impede.
Isto porque não há nada como apenas gostar muito. Quando passo a admirar profundamente e a adorar...já não consigo comer.
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