terça-feira, dezembro 12, 2006

De volta ao Minho



Quando íamos para o Minho era Verão, estávamos de férias e perdíamos a noção do Tempo. Nunca sabíamos o dia da semana, excepto aos domingos.
O muro de pedras e musgo do nosso jardim confinava com o muro do Convento de Paderne. Por isso era fácil, mal ouvíamos o sino tocar, saltarmos da cama, lavarmo-nos, vestirmo-nos e apresentarmo-nos a minha avó que já nos aguardava, impaciente, se bem que não o demonstrasse verbalmente.
Mas nós adivinhávamo-lo no seu olhar azul -glaciar que nos fazia gelar, não de medo, mas de respeito e um pouco de vergonha.
E lá íamos, passo estugado, em direcção à igreja do Convento.
Meu avô também era muito devoto mas não ia à missa. Não precisava, dizia ele, pois só fazia o bem e rezava todos os dias as laudes e as vésperas, genuflectido no oratório do seu quarto.
Era um homem muito grande e forte, ao contrário de minha avó, que era pequenina e magra mas que era quem comandava as tropas.
Meu avô vingava-se à hora das refeições, contando imensas histórias engraçadas, que nos faziam rir a bandeiras despregadas, para grande desespero de minha avó que se sentia impotente para impor a ordem que tanto prezava e que passaria pelo nosso silêncio à mesa.
A infantocracia foi algo que só surgiu mais tarde, já eu era quase adulta. Na minha infância, as crianças não eram as donas do mundo, não eram aduladas como são hoje e a Terra não girava à volta dos seus umbigos.
À hora das refeições esperava-se de nós que mastigássemos, engolíssemos e pouco mais. As conversas estavam reservadas aos adultos.
Pode-se assim facilmente imaginar como meu avô representava para nós um herói anti -convenções que nos libertava, divertia e nos permitia ousar.
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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O convento de Paderne, foi a minha casa durante a minha infância. Este texto trouxe-me saudade desse tempo. Gostei muito.

09 julho, 2007  

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