quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Sofrimento

Quando chegámos ao Lorvão para visitarmos o Mosteiro e mal abrimos as portas do carro, fomos cercados por homens de todas as idades, sorridentes uns, olhar ameaçador,outros, desdentados, sujos e despenteados, todos.
Não percebi de imediato de que se tratava e senti medo. Depois li a placa presa ao gradeamento do Mosteiro: extensão do Hospital Psiquiátrico de Coimbra. Continuei com medo mas já sabia que pessoas eram aquelas que nos rodeavam, estendendo a mão, pedindo cigarros, uns rindo outros carrancudos .
Entramos no Mosteiro.
Ali jazem, a par das santas D. Teresa e D. Sancha, um magnífico cadeiral em madeira de jacarandá e nogueira que sobrevive à humidade e ao tempo e uma belíssima grade rocócó, de ferro forjado que separa a Igreja do Coro . Lembra a da Catedral de Sevilha e da Igreja de Santa Isabel, junto ao Convento de Santa Clara , a Nova, em Coimbra.
É um Mosteiro belo como todos os mosteiros, mas triste, infeliz. Não é como as ruínas das Abadias belgas, perdidas no meio dos campos onde, quando entramos, nos parece ouvir as alegres gargalhadas dos monges cervejeiros .

À saída do Lorvão seguiu-nos um homem que, quando parámos no semáforo, enfiou a cabeça pela janela do condutor e nos fez um interrogatório: De onde vêem? Para onde vão?
Fitei os seus belos olhos azuis turquesa, jovens, apesar da idade avançada que aparentava ter e respondi-lhe que não sabíamos.

Não sabemos de onde vimos nem para onde vamos.

Eu também não sei o que estou aqui a fazer, disse-nos o louco, sorrindo. Nós também não, ainda lhe respondemos, antes de arrancarmos, quando o sinal se pôs verde.

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5 de Julho de 2005

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