segunda-feira, setembro 12, 2005

As coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que nos fomos num momento


Jorge Luis Borges

2 Comments:

Blogger Fernando Palma said...

"Durarão para além de nosso esquecimento" Gostei disso...durar além do esquecimento. Muito bom!
Bom saber que se identificou com a ideia de "ir alem" do meu texto. Agradeço os comentarios. Beijo.

12 setembro, 2005  
Blogger GNM said...

Gostei muito...
É fantástico como se pode fazer poesia tão bela apartir de coisas tao banais!

Fica bem...

12 setembro, 2005  

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