O sobrinho de Wittgenstein
(...)Vou para Nathal para me acalmar de Viena e, inversamente, vou para Viena para me curar de Nathal.Herdei este desassossego do meu avô materno , que teve de existir durante toda a vida com um tal desassossego a devorar-lhe os nervos e, em última análise, também a esse desassossego sucumbiu.Todos os meus antepassados estiveram possuídos de um tal desassossego e não se aguentavam muito tempo num sítio e numa cadeira.Três dias em Viena e não aguento mais, três dias em nathal e não aguento mais.Nos últimos anos de vida do meu amigo, este associou-se ao meu ritmo de viagens para cá e para lá e ía muitas vezes comigo para Nathal e voltava e vice-versa.Quando chego a Nathal pergunto a mim próprio o que é que faço em Nathal, chego a Viena e pergunto a mim próprio o que é que faço em Viena.Como noventa por cento de todas as pessoas, no fundo quero sempre estar onde não estou, estar no sítio de onde acabo de fugir.Nos últimos anos esta fatalidade agravou-se, não melhorou, e é com intervalos cada vez mais curtos que vou para Viena e regresso a Nathal e vou de Nathal para outra grande cidade, para Veneza ou Roma, e regresso, e vou para Praga e regresso.E a verdade é que apenas sou feliz quando estou sentado no carro entre o lugar que acabei de deixar e o outro para onde me dirijo, apenas sou feliz no carro e durante a viagem, mas sou o mais infeliz recém-chegado que se pode imaginar, onde quer que chegue, logo que chego sou infeliz.Sou daquelas pessoas que no fundo não suportam nenhum lugar do mundo e só são felizes entre os lugares de onde partiram e para onde se dirigem.(...)
Thomas Bernhard
2 Comments:
olha nós...
Um beijo
Daniel
Obrigado pela visita, só hoje reparei no comentário.
Enviar um comentário
<< Home