terça-feira, setembro 05, 2006

Rubaiyat (uma)

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, ‘star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há ou não há o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhe rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

Fernando Pessoa

4 Comments:

Blogger I said...

Para o meu querido amigo I,que a tantas pessoas já adiou o momento da morte, UM FELIZ ANIVERSÁRIO!

05 setembro, 2006  
Blogger Amir said...

Pois feliz aniversário, sim!

(Ainda bem que voltaste i... gosto de ler-te e de ler "os outros" que tão sabes escolher...)

Baci

05 setembro, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Brigado, são palavras simples mas que me tocam muito. Um xi comuito carinho
ili

06 setembro, 2006  
Anonymous Anónimo said...

São pessoas como tu que nos fazem sentir muito bem, mesmo só por sabermo squ existem
beijos
ili

06 setembro, 2006  

Enviar um comentário

<< Home

on-line hits.