quarta-feira, outubro 12, 2005

Um homem não é de pau

Dum filho que fóra tinha
em Coimbra a estudar,
qualquer conta, quando vinha,
o fazia matutar.

Nela o 'tudante evitava,
uma a uma referir,
as verbas, que assentava
para o pai as conferir.

Êste , de longe a escrever,
não obtinha do rapaz,
que chegasse a remetêr
uma só conta capaz.

As despesas ordinárias
'stavam bem discriminadas,
mas depois algumas várias
eram todas englobadas.

Porque o pai insistiu
em não q'rer verba geral,
o filho a substituíu
por um et cet'ra e tal.

Em casa o pai quiz do filho,
nas férias, frente a frente,
feita ali de afogadilho,
uma conta miúdamente.

Sem as cousas ocultar,
e p'ra as somas prefazer ,
vai, enfim, 'specificar,
o melhor que puder ser.

Levou , porêm, a cautela
a êste singular grau:
mais tanto ( e eis a parcela)
que um homem não é de pau.


Visconde de Carnaxide

2 Comments:

Blogger I said...

Nas minhas deambulações por Lisboa, encontrei num alfarrabista de rua, uma preciosidade datada de 1920, edição da Imprensa Nacional de Lisboa : "no Outono da Vida" do Visconde de Carnaxide que foi, além de Visconde, sócio da Academia de Ciências de Lisboa e Director da revista de Jurisprudencia "O Direito". De entre os inúmeros sonetos que enchem as 250 páginas do livro, escolhi para o dia de hoje , este que acho delicioso e tão ilustrativo dos costumes da época.

Respeitei a grafia original.

12 outubro, 2005  
Blogger Alberto Oliveira said...

que um homem não é de pau
nem mesmo de marmeleiro
se nas contas sou tão mau
havia de sobrar dinheiro?!


Legível.

13 outubro, 2005  

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