sexta-feira, junho 20, 2008

São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga

3 Comments:

Blogger Pêndulo said...

Belo o poema, mais belo o local onde já fui mais de uma vez. Tem uma capela, na sua parede traseira, paradoxalmente à proa do navio, esse poema em azulejos.
Ver aqui

20 junho, 2008  
Blogger Jeff said...

Maravilhoso poema... gostei muito do blog... Abraços, jeff

13 dezembro, 2008  
Anonymous Anónimo said...

A la noche a las site ja es fosch

13 janeiro, 2009  

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